Título: Talibã é acusado de executar viúva grávida
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 10/08/2010, O Mundo, p. 31

Porta-voz da milícia nega o crime

HERAT, Afeganistão. O governador do distrito de Qades, Hashim Habibi, acusou ontem o Talibã de executar uma mulher grávida por ter cometido o crime de adultério. Segundo a denúncia, a viúva Bibi Sanubar, de 48 anos, foi chicoteada e executada publicamente a tiros por milicianos à mando do mulá Abdul Hakim.

A mulher teria sido obrigada a abortar antes de receber dezenas de chicotadas e três disparos na cabeça no distrito de Qades, na província de Badghis, no conturbado noroeste afegão ¿ que luta contra a ação das milícias. Segundo o chefe da Polícia do distrito de Qades, Abdul Ghafoor, Sanubar mantinha relações com um homem com quem pretendia se casar, que também foi capturado pelos rebeldes ¿ mas libertado após o pagamento de uma polpuda fiança. O homem teria, em seguida, fugido para o Irã.

¿ Tudo aconteceu em público. Apesar de ninguém ter reclamado, vamos tomar nossas próprias medidas quanto a esse incidente ¿ criticou Abdul Jabar, um oficial da província.

Se comprovada a autoria do Talibã, esse terá sido o segundo assassinato público de mulheres cometido pelo grupo desde que foi deposto, em 2001. A milícia, no entanto, nega qualquer envolvimento na morte da mulher.

¿ Esse é um trabalho ruim e nós o rejeitamos. Quem quer que tenha feito isso não é membro do Talibã e está tentando nos difamar ¿ afirmou o porta-voz do Talibã, Mohammad Yousuf.

A presidente da Comissão Afegã Independente de Direitos Humanos, Sima Samar, condenou o caso:

¿ Temos tribunais para tratar disso. Era uma viúva. Os tribunais, nesse caso, não sentenciam à morte.

Numa nota, o Talibã negou ter conhecimento da execução e rejeitou ainda a responsabilidade pela mutilação da jovem Aisha, de 19 anos, capa da revista ¿Time¿ na semana passada, cujo nariz e orelhas foram cortados, segundo ela, por talibãs como castigo por ter fugido da casa do marido.