Título: Brasil oficializa convite de abrigo a Sakineh
Autor: Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 10/08/2010, O Mundo, p. 31

Embaixador se reúne com funcionários do governo do Irã, mas Chancelaria não confirma se proposta será aceita

BRASÍLIA. A dois dias da possível decisão sobre a sentença da iraniana condenada à morte por adultério e assassinato do marido, o governo brasileiro confirmou ontem que apresentou uma proposta formal para que Sakineh Mohammadi Ashtiani seja trazida para o Brasil, como forma de evitar o cumprimento da pena. O pedido foi feito na semana passada, durante uma reunião entre o embaixador no Irã, Antônio Salgado, e altos funcionários do governo de Mahmoud Ahmadinejad.

A Chancelaria brasileira, no entanto, não confirma se caso a proposta seja aceita ela viria ao país na condição de refugiada.

Lula faz apelo e compara caso ao de outro brasileiro No último sábado, porém, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva indicou que alimentava poucas esperanças de que o pedido de perdão fosse respondido rapidamente pelas autoridades da república islâmica.

Em entrevista coletiva concedida após a cerimônia de posse do presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, Lula afirmou que essas coisas são muitos delicadas e devem levar em conta a legislação e a soberania de cada país.

O ministro Celso Amorim pediu para o nosso embaixador falar com os embaixadores (iranianos).

Essas respostas sempre demoram. Eu tenho um brasileiro que está condenado à morte na Indonésia, já falei duas vezes com o presidente da Indonésia, já mandei carta afirmou Lula, comparando o caso com a condenação do brasileiro Marco Asher Moreira, preso em 2003 em Jacarta, com cocaína

Negociações com Teerã permanecem sigilosas O Itamaraty não divulga detalhes das negociações com o Irã.

Os diplomatas brasileiros advertem que o tema é de extrema complexidade e que qualquer declaração, além das que já foram feitas pelo presidente Lula, poderia prejudicar o curso das negociações. Apesar de admitir a possibilidade de revisar a condenação de morte por apedrejamento, o governo do Irã não dá sinais de estar disposto a conceder o perdão.

Viúva e mãe de dois filhos, Sakineh já informou que deseja morar no Brasil. Na semana passada, a Suprema Corte do Irã negou mais um apelo dos advogados.

Após as declarações do governo brasileiro sobre o caso, há pouco mais de uma semana, Teerã disse que o presidente Lula estava mal informado sobre a situação da condenada. No sábado retrasado, Lula disse ainda que não poderia imaginar uma morte por apedrejamento e fez o apelo pelas vias oficiais.

Como ser humano, como cristão que eu sou, eu não posso imaginar alguém ser morto apedrejado por traição. Eu não consigo imaginar. Por isso fiz o pedido, se tivesse condições de mandá-la para o Brasil, nós a receberíamos de braços abertos.

Sakineh Mohammadi Ashtiani, que está presa há cinco anos numa cadeia de Tabriz, no noroeste do Irã, aguarda pelo veredicto no corredor da morte. Segundo Sajjad filho da condenada , jornais, emissoras e agências do Irã foram proibidos de noticiar a sentença da mulher, apesar da intensa campanha internacional para salvar sua vida.

Milhares de pessoas em todo o mundo aderiram ao movimento contra a condenação de Sakineh. O caso gerou tanta repercussão que o advogado da mulher, Mohammad Mostafaei, fugiu do Irã para a Turquia, onde foi preso por falta de documentos.

No domingo, Mostafaei fugiu para a Noruega e pediu asilo político ao país.