Título: A segurança é tema obrigatório
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Fonte: O Globo, 08/08/2010, Opinião, p. 6
Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo registram significativa redução nos indicadores de criminalidade.
No Rio de Janeiro, o número de homicídios em junho foi o menor de toda a série histórica iniciada em 1991, segundo dados do Boletim Mensal de Monitoramento e Análise do Instituto de Segurança Pública. O órgão também registra que a primeira metade de 2010 apresentou no estado o menor índice de assassinatos em um semestre, com queda de 20% em relação a 2009. Em São Paulo, recentemente a Rota subtraiu aos traficantes grande quantidade de armamento, uma tonelada de drogas e cerca de R$ 2 milhões em dinheiro. E, a exemplo do Rio, o estado também contabiliza bons resultados na política de combate à violência e ao banditismo.
Tais números são inegável e positiva consequência do emprego de meios mais eficientes de enfrentar a criminalidade. Mas, ao mesmo tempo, trazem novos questionamentos para o debate sobre a violência decorrente de ações criminosas. No Rio, o programa de maior visibilidade na guerra contra o crime organizado é a instalação de Unidades de Polícia Pacificadora em favelas. Se, por um lado, as UPPs lograram sufocar o tráfico de drogas em comunidades subjugadas pela marginalidade, por outro, fizeram os chefões das quadrilhas ali instaladas procurar abrigo em outras regiões, num processo de migração do crime para áreas desprovidas de dispositivos de coerção mais eficazes, até fora do estado. Em São Paulo, as bem-sucedidas ações da Rota tiveram como decorrência o recente ataque a um quartel e um atentado contra o comandante daquela unidade de elite da polícia paulista, ambos perpetrados pela mais atuante facção criminosa do estado. A essas reações diretas contra operações do Estado juntam-se evidências de que as ações localizadas de aperto acabam por levar o crime organizado a buscar outras formas de atuação e novas paragens. Não é por acaso, por exemplo, que nas últimas semanas o noticiário policial tem dado conta de informações como a prisão, no Nordeste, do filho do traficante Beira-Mar com grande quantidade de drogas, ou o crescimento dos índices de assaltos geralmente em cidades pequenas, até aqui situadas fora do perímetro tradicional da violência por quadrilhas que se mostram mais bem organizadas que os bandidos eventuais. São ações que desafiam a sociedade, e que dão conta da imperiosidade de se atacar o crime não só com ações pontuais, mas com um programa global que implica uma integração de todo o organismo de segurança do país. Essa foi, por sinal, uma promessa de campanha que o primeiro governo Lula deixou passar em branco, e que somente começou a se materializar no segundo mandato, mesmo assim com alguma timidez.
Essa é uma guerra que pressupõe o trabalho conjunto dos órgãos de segurança em todos os níveis (federal, estadual e municipal).
Até porque as ramificações das maiores quadrilhas brasileiras chegam ao exterior, com conexões em países da América onde o crime organizado já se tornou uma ameaça às instituições.
Se este não é ainda o quadro que se pinta no Brasil, é inadiável que a questão da segurança e do combate ao crime entre mesmo para valer na agenda dos grandes problemas a ser enfrentados no país.