Título: Amorim sugere gesto humanitário ao Irã
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 12/08/2010, O Mundo, p. 35

Itamaraty ainda aguarda resposta oficial sobre oferta de asilo a condenada

Sem receber qualquer resposta oficial de Teerã sobre a oferta brasileira de dar asilo à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani - condenada ao apedrejamento por adultério e por suposto assassinato - o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, preferiu manter uma ponta de otimismo quanto ao desfecho do caso. No Rio, onde ontem proferiu a aula magna do curso de História da UniRio, o chanceler sugeriu que um gesto humanitário seria positivo para a imagem do Irã. Amorim lembrou que quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva visitou a república islâmica, em maio passado, "as autoridades iranianas revelaram alguma generosidade" ao libertarem uma prisioneira francesa.

- Sakineh é acusada não só de adultério, mas de homicídio. Não vou discutir a questão de homicídio porque não temos como julgar como foi o processo. A situação dessa moça, a ameaça de apedrejamento, é uma coisa que choca a sensibilidade brasileira. Sei que é diferente, que trata-se de uma iraniana, e há aspectos legais internos. Mas quem sabe um gesto humanitário não seja bom para o Irã, para a própria imagem que tem no mundo? - arriscou o ministro.

A demora numa resposta oficial do Irã ao Itamaraty poderia, talvez, ser atribuída ao início do mês sagrado do Ramadã, iniciado ontem no Oriente Médio. Apesar da incerteza, o chanceler não descartou a possibilidade de um novo envolvimento do Brasil nas negociações acerca do programa nuclear da república islâmica. Questionado sobre a volta das negociações após o Ramadã - conforme especulado pela imprensa iraniana - Amorim foi lacônico, mas confirmou que há conversas em andamento, junto com a Turquia.

- O Irã tem dito que quer voltar a negociar. Se isso ocorrer, só será possível porque houve a Declaração de Teerã. Tem havido contatos. Há três semanas, estive em Istambul e foram conversados aspectos que permitam essa retomada. Essas conversas não são definitivas, e pela sua própria natureza, são sigilosas - desconversou.

Num comunicado, a Anistia Internacional reiterou que Sakineh pode ser executada a qualquer momento. Protestos para salvar sua vida correm pela internet e se espalham por EUA, Europa e América Latina.