Título: Bolsa brasileira recua 2,13% por China e EUA
Autor: Alencar, Emanuel; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 12/08/2010, Economia, p. 29

Dados mostram fôlego menor da produção chinesa. UBS reduz recomendação para Petrobras e papéis caem 3%

RIO, BRASÍLIA, NOVA YORK e PEQUIM. A desaceleração da produção industrial na China e as projeções cautelosas do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) para a economia americana pesaram ontem nos mercados mundiais. A Bolsa de São Paulo (Bovespa) fechou em queda pelo quarto pregão consecutivo. O Ibovespa, seu principal índice, caiu 2,13%, aos 65.790 pontos, no pior dia no mercado brasileiro em seis semanas.

No mercado de câmbio, a moeda americana avançou 0,68%, a R$1,770. No mundo, o dólar só perdeu para o iene, frente ao qual atingiu o menor nível em 15 anos: 85,37 ienes. O euro recuou 2,3%, a US$1,2882.

Déficit comercial americano cresce 18,8%, a US$49,9 bi

A Petrobras caiu mais de 3% depois de o banco suíço UBS reduzir recomendação para ações ordinárias (ON, com direito a voto) da estatal de "neutra" para "venda". As preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras caíram 3,20%, e as ON, 3,80%. O banco alertou para riscos na capitalização da empresa.

Ainda pesou no mercado o comunicado do Fed de terça-feira, que prevê uma recuperação mais lenta que o esperado anteriormente. O BC americano deixou clara a necessidade de mais estímulos para incentivar a economia. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, caiu 2,49%, e a Nasdaq, 3,01%.

Além disso, os EUA divulgaram aumento de 18,8% no déficit comercial em junho, para US$49,9 bilhões, o maior valor desde outubro de 2008. As importações de bens de consumo atingiram o recorde de US$43,1 bilhões, sendo que as compras de itens oriundos da China totalizaram US$32,9 bilhões. As exportações caíram 1,3%, a US$150,5 bilhões. Já o déficit orçamentário recuou no mês passado, ficando em US$165 bilhões, frente a US$180,7 bilhões em julho de 2009. O acumulado do ano fiscal, que termina em 30 de setembro, está em US$1,17 trilhão.

A China, por sua vez, informou que o crescimento da produção industrial desacelerou em julho, de 13,7% para 13,4%. Isso se deveu à normalização do mercado de crédito, depois de uma expansão recorde em 2009 para fazer frente à recessão global.

Estrategista da TCX Consultoria, Edgar Tamaki ressalta que os papéis ligados às commodities e ao setor siderúrgico sofreram mais. Segundo ele, pesou ainda a decisão da China, anunciada na segunda-feira, de fechar siderúrgicas de médio porte não eficientes e altamente poluidoras. Os papéis PNA da Vale recuaram 2,80%, e os ON, 3,38%.

Avançaram os papéis ligados ao mercado interno. As ações ON das Lojas Renner subiram 1,93%, enquanto JBS ON e Natura ON ganharam 1,60% e 1,29%, respectivamente.

- A aversão a riscos foi a tônica do dia, com investidores partindo para opções mais seguras - diz Paulo Hegg, analista da Corretora Um Investimentos.

Fluxo cambial começa o mês positivo em US$1,79 bi

O fluxo cambial - entrada e saída de moeda estrangeira no país - começou agosto no azul, impulsionado pelos investidores financeiros. De acordo com o Banco Central (BC), o saldo entre os dias 2 e 6 estava positivo em US$1,791 bilhão, superando em muito o superávit de julho inteiro, de US$712 milhões.

A conta financeira, pela qual passam os investimentos estrangeiros diretos e em ações e títulos, registrava entradas líquidas de US$2,382 bilhões na semana passada, com compras de US$9,048 bilhões e vendas de US$6,666 bilhões.

O mercado espera que esse movimento continue, com o Brasil atraindo mais recursos de fora - como os entre US$15 bilhões e US$20 bilhões previstos para a capitalização da Petrobras, que deve ocorrer em setembro.

Já a conta comercial registou déficit de US$591 milhões na primeira semana de agosto, com exportações de US$2,729 bilhões e importações de US$3,319 bilhões. O BC informou ainda que, no período, intensificou sua atuação no mercado de câmbio, com compras diárias de dólares de até US$600 milhões. As reservas internacionais cresceram US$1,151 bilhão entre os dias 2 e 6, contra US$1,494 bilhão em todo o mês de julho.

(*) Com agências internacionais