Título: No giro do tempo
Autor: Corrêa, Maurício
Fonte: Correio Braziliense, 28/06/2009, Opinião, p. 21

A Segunda Guerra Mundial pôs em pânico a humanidade no século passado. Hitler esteve bem próximo de vencê-la. Se o bombardeio sobre Londres não tivesse cessado nos momentos de maior intensidade entre 1940 e 1941 ou se as tropas da Wehrmaht tivessem completado a ocupação do Cáucaso, com apropriação dos poços de petróleo do Mar Negro, a vitória da guerra poderia ter sido da Alemanha. Ou, ainda, entre outros eventos, se o Fürher não tivesse rompido o Tratado de Não Agressão com a União Soviética, instaurando-se guerra de duas frentes; e, por fim, se o Japão não tivesse bombardeado Pearl Harbor, forçando o ingresso dos Estados Unidos no conflito, quiçá os nazistas tivessem efetivado o domínio mundial.

Na Conferência de Potsdam, em julho de 1945, as cinzas da guerra nem ainda haviam se apagado, já os EUA, a União Soviética e a Inglaterra se engalfinhavam pela divisão do espólio da Alemanha. Era o prenúncio do que viria a ser a guerra fria. Esse período de penosa duração deixou o mundo sem saber o destino do amanhã. A União Soviética ferida nos brios com o sucesso dos EUA pela descoberta da bomba atômica, seguida de seu lançamento sobre Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945, também detonou a sua no deserto do Cazaquistão, em agosto de 1949. Depois da bomba atômica, veio a de hidrogênio e, depois destas, outras espécies foram geradas. As nações viviam sob temor diante do perigo que as ameaçavam.

A disputa por novos armamentos tornou-se uma constante. A guerra da Coreia quase leva o mundo à ruína. Com o término da conflagração nesse país, veio a guerra do Vietnã, que, por pouco, não acende o estopim de nova guerra mundial. A África, a Ásia e a Europa serviram de palco a sangrentos conflitos em várias oportunidades. Ogivas nucleares colocadas em navios de guerra da URSS, fundeados na costa cubana, foram direcionadas para os EUA. O risco era iminente. As conquistas do espaço aéreo, após o lançamento do primeiro Sputnik, iniciaram a era dos satélites artificiais. Ninguém poderia prever o que viria daí para frente. No governo do presidente Ronald Reagan, os Estados Unidos felizmente lograram celebrar acordos com a URSS, objetivando conter a disparada dos artefatos atômicos. Foi possível, assim, frear a corrida nuclear e mitigar as tensões que tomavam conta do quotidiano das pessoas em todo mundo.

Estancada a luta entre os dois países pelo controle nuclear, o planeta se viu livre da insegurança e dos males provocados pela guerra fria. O estado de relativa tranquilidade pouco ou nada durou. Quando o mundo absorvia os frutos da trégua, efêmera e fugaz, na vertente do outro lado dos fatos o medo do imponderável voltava a acicatar as nações. Era a serpente do terrorismo que principiava a espargir peçonha em várias direções. Inumeráveis foram os crimes cometidos sob seus desígnios nas mais multiformes manifestações pelo mundo afora. Em plena fase da ascensão terrorista, a Índia fabrica sua bomba atômica e, logo a seguir, o Paquistão a imita. Pela nervosa natureza de suas relações, o pior felizmente não aconteceu. Outros países espantam o mundo com experimentos nucleares. Novamente, é a ameaça deles que volta a atemorizar.

Não mais no terreno das eventualidades, mas agora no da concreção, aí está a Coreia do Norte já de posse da tecnologia da bomba atômica. O país, chefiado por Kim Jong-II, cada vez mais se isola e se afasta das demais nações. Desafeto da Coreia do Sul, é imprevisível saber o que, de posse da bomba, pode resultar. O país não aceita que a ONU, por seus organismos de controle nuclear, faça inspeções em seu território. Suas relações não são boas com os EUA e nem com o Japão, e especula-se que também estão deterioradas com a China e a Rússia. O imponderável está no ar.

Do mesmo modo, sabe-se que a questão da Palestina é delicada. Os países árabes que cercam Israel são solidários com os palestinos. Países de fora da comunidade árabe, mas muçulmanos, entre os quais o Irã, engrossam o rol dos inimigos de Israel. Com a vitória de Ahmadinejad ¿ já confirmada pelo chefe supremo iraniano, o aiatolá Khamanei ¿, a paz na região parece distante. O Irã conquistou avanços nos últimos tempos. Seus foguetes de longo alcance evidenciam a afirmação. Tudo sugere que deverá explodir sua bomba a qualquer hora. É mais uma dor de cabeça geral.

Apesar dessas constatações, a questão a merecer atenção das autoridades deve ser o terrorismo. Bin Laden, um resoluto fanático religioso que foi para o Afeganistão lutar contra a ocupação soviética, com o passar do tempo se converteu em voraz adversário dos EUA. Com a retirada dos soviéticos do país, mudou-se para o Sudão, de onde foi forçado a sair por pressão americana. Retornou ao Afeganistão. A trama para utilização de aviões com terroristas do 11 de setembro de 2001 nasceu na Al-Qaeda, entidade que passou a congregar todas as facções que, de braços com o terror, lutavam por objetivos idênticos.

O perigo do terrorismo não está isoladamente em seus membros, mas nas alianças com Estados que os associam. Foi o caso do Afeganistão. Para chegarem à bomba atômica não medirão esforços. Algum insano ditador pode lhes fornecer os meios. Nisso está o maior risco da humanidade.