Título: Filhos de iraniana apelam `a ONU
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 13/08/2010, O Mundo, p. 29

BERLIM. No dia seguinte ao que Sakineh Mohammadi Ashtiani apareceu no canal da TV estatal do Irã admitindo sua suposta participação no assassinato de seu marido, seus dois filhos ¿ Saide e Sajjad, de 17 e 22 anos ¿ enviaram uma carta à Organização das Nações Unidas, solicitando ajuda no caso.

¿Pedimos à ONU que se envolva neste caso, que uma comissão neutra internacional seja enviada ao Irã para analisar todas essas questões.¿

Logo pela manhã, Saide e Sajjad foram, acompanhados da avó, visitar a mãe na prisão de Tabriz. Separados por uma parede de vidro e falando ao telefone por apenas dez minutos, eles se surpreenderam com a confissão da mulher. O advogado da iraniana alega que ela foi torturada para conceder a entrevista.

¿ Ela repetiu o que já havia dito na entrevista à televisão, confessando que era culpada da morte do nosso pai, mas a sua mímica facial e os seus gestos queriam dizer o contrário ¿ afirmou Sajjad à Comissão Internacional contra a Pena de Morte e o Apedrejamento.

O sofrimento com a possibilidade de perder a mãe foi somado à angústia de ouvir a confissão supostamente forçada. Desde que viu Sakineh na TV, a filha de 17 anos não para de chorar.

Segundo Mina Ahadi, representante da família da iraniana, há o receio de que os últimos acontecimentos sejam uma preparação para a execução. Hotan Kian, advogado de Sakineh, disse que a confissão foi decorrente de muito espancamento.

¿ Levaram a senhora para a sala 37 da prisão, obrigando-a a fazer a confissão contra si mesma. Essa confissão não aconteceu em condições normais. Segundo o que ouvi, ela foi forçada com espancamento.

A entrevista em que Sakineh aparece falando em turco com dublagem em persa foi criticada por entidades internacionais. O governo britânico e a Anistia Internacional disseram que Teerã está inventando uma nova acusação de homicídio contra ela.