Título: O lixo ambientalmente correto
Autor: Motta, Cláudio
Fonte: O Globo, 13/08/2010, Rio, p. 16

Com licença concedida ontem, começam hoje as obras de novo aterro, em Seropédica

DEZENAS de catadores trabalham em Gramacho: um jeito ultrapassado de destinar o lixo urbano

A CTR de Adrianópolis: tecnologia como aliada para combater o problema dos detritos

Oinício, hoje, das obras da nova Central de Tratamento de Resíduos (CTR), em Seropédica, será o primeiro passo para o fechamento do Aterro de Gramacho, em Caxias, que hoje recebe quase todo o lixo da capital. A licença para a construção da CTR foi concedida ontem pela prefeitura local. De acordo com a Ciclus, empresa que vai operar o novo aterro, a previsão é que já em dezembro a instalação seja inaugurada e comecem as atividades. Assim, Gramacho poderá ser encerrado em 2012, já que a CTR também receberá todo o lixo do Rio e de Itaguaí.

A Câmara de Vereadores de Seropédica aprovou, no ano passado, uma emenda à Lei Orgânica proibindo a construção de aterros sanitários na cidade. A prefeitura, então, entrou na Justiça com uma ação direta de inconstitucionalidade contra a proposta. A decisão favorável ao Executivo foi dada na última segunda-feira. Isso permitiu que a prefeitura concedesse a licença para a obra. Todas as autorizações, inclusive as ambientais, já tinham sido dadas pelo estado.

Para o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o fim do Aterro de Gramacho será um marco para a Região Metropolitana. De acordo com ele, o lixo terá uma solução limpa, ambientalmente correta e viável economicamente:

¿ Com Gramacho, a população, inconscientemente, todo dia, na hora em que produz lixo, provoca um dano ambiental enorme à Baía de Guanabara e à Região Metropolitana (já que os detritos não têm destinação adequada em Gramacho). Todos nós somos criminosos ambientais até Seropédica entrar em operação. Para mim, dá um orgulho enorme deixar de ser criminoso. Um problema que vem se arrastando e parecia que não teria solução.

Nove mil toneladas de detritos por dia

O secretário municipal de Conservação do Rio, Carlos Roberto Osório, diz que a CTR de Seropédica está no centro da agenda de sustentabilidade da cidade:

¿ O Rio mostra um novo caminho para cidades do mundo emergente. A cidade hoje produz nove mil toneladas de lixo por dia.

Para o presidente do Observatório Urbano da Uerj, professor Cezar Teixeira Honorato, o fim de Gramacho será um grande avanço:

¿ Gramacho continuou existindo por omissão das autoridades. Será necessário um programa social para cerca de dez mil famílias que vivem do lixo de Gramacho.

Saturado, o aterro em Caxias tem sido sinônimo de problemas para a Região Metropolitana. Há mais de uma década, uma solução vem sendo buscada. O aterro chegou a ser fechado várias vezes na chamada Guerra do Lixo (brigas judiciais entre as prefeituras de Caxias e do Rio). Em 2010, um vazamento de chorume (líquido proveniente do lixo) provocou a morte de uma grande extensão de manguezal. Além disso, urubus que sobrevoam o local são um risco para a aviação.

Na gestão do ex-prefeito Luiz Paulo Conde, começou a procura por um novo local para o lixo do Rio. Em 2003, o então prefeito Cesar Maia fez a concorrência para um aterro em Paciência. O projeto não foi adiante: a decisão causou polêmica e deu origem a 30 ações judiciais.

Mais do que receber o lixo, a CTR de Seropédica será uma usina de geração de energia a partir da queima do gás metano captado dos detritos. Também será produzida energia em sete unidades no Rio (Caju, Vargem Pequena, Taquara, Santa Cruz, Bangu, Marechal Hermes e Penha), as Estações de Transferência de Resíduos, que receberão o lixo antes de ele ser levado para Seropédica. Nesses locais, a energia será produzida com a queima de lixo seco.

¿ São unidades bonitas, sem problema de cheiro. Terão padrão europeu. Vamos mudar o conceito de lixo ¿ disse Adriana Felipetto, superintendente da Haztec, sócia da Ciclus.

A Haztec foi responsável pela implantação de uma CTR em Adrianópolis, Nova Iguaçu, com tecnologia semelhante.