Título: Cada vez mais curvilíneas
Autor: Jansen, Roberta
Fonte: O Globo, 15/08/2010, Saúde, p. 43

Pela cirurgia plástica, brasileiras buscam seios e nádegas maiores

A IMAGEM DE COMPUTADOR apresenta um modelo para aumento dos seios: procedimento é cada vez mais popular no Brasil, que ocupa o terceiro lugar no ranking

Se o padrão internacional de beleza é a magreza cada vez mais doentia, no Brasil as curvas estão mais valorizadas do que nunca. É o que revela a análise dos números obtidos na maior pesquisa internacional já realizada sobre tratamentos estéticos, divulgada pela Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (ISAPS). As brasileiras cada vez mais pagam para ter seios e nádegas maiores, além de cintura e quadris esculpidos pela lipo, na busca do que consideram o corpo (curvilíneo) perfeito.

O levantamento mostra que os EUA são os campeões em número absoluto de procedimentos realizados, seguidos pelo Brasil e pela China ¿ que se alternam no segundo lugar de acordo com os critérios usados em cada item avaliado.

¿ Os EUA e o Brasil sempre foram líderes de cirurgias estéticas: ambos são países de grande população, com grande número de cirurgiões plásticos bem qualificados e, por isso, sempre aparecem entre os três primeiros ¿ afirmou o presidente da ISAPS, o cirurgião plástico americano Foad Nahai. ¿ Principalmente, ambos têm uma sociedade que aceita a cirurgia cosmética.

Nos EUA, foram realizados, no ano passado, mais de 3 milhões de procedimentos estéticos, entre cirúrgicos e não cirúrgicos. No Brasil, no mesmo período, foram aproximadamente 2,5 milhões, numa população que beira os 190 milhões. É muita gente disposta a se submeter a procedimentos que, muitas vezes, apresentam riscos à saúde, e a gastar uma quantia razoável de dinheiro em nome da beleza.

O corpo, como não poderia deixar de ser num país litorâneo, é o principal alvo das brasileiras. Não por acaso, o país é o número um do ranking mundial da lipoaspiração, com 253 mil intervenções realizadas no ano passado, grande parte delas de quadril e abdômen. O aumento dos seios continua em alta, seguindo uma tendência iniciada no início dos anos 90: foram 172 mil em 2009, terceiro no ranking.

Um outro procedimento que não aparece na pesquisa mas que, segundo especialistas nacionais, cresce no país é o implante de glúteos ¿ uma cirurgia que, há pouco tempo, era considerada de pós-operatório doloroso e resultados nem sempre muito satisfatórios.

¿ A brasileira busca ampliar suas curvas; o que se aplica para as mamas, também vale para os glúteos ¿ afirma a cirurgiã Bárbara Machado, chefe da equipe médica da clínica de Ivo Pitanguy. ¿ Até o início dos anos 80, a redução era mais popular por aqui, mas, depois, com o aumento da segurança dos materiais de prótese, e o surgimento de novos ícones de beleza com seios maiores, a coisa mudou.

Segundo Bárbara, os volumes das próteses estão progressivamente maiores. Variavam de 130 ml a 150 ml nos anos 90, passaram a 200 ml nos anos 2000 e, agora, já vão de 235 ml a 285 ml ¿ o que corresponde a um aumento de até dois números no sutiã. O aumento da segurança e o aprimoramento da técnica das próteses de glúteo, segundo Bárbara, fizeram também a procura pelo procedimento aumentar.

¿ A brasileira quer ganhar volume de mama, com uma linha mais delineada, ter o quadril mais arredondado e a projeção do glúteo ¿ resume a cirurgiã.

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Sebastião Nelson Edy Guerra, as técnicas de prótese de glúteo estão consolidadas e permitem a obtenção de nádegas muito bonitas, embora o pós-operatório não seja dos mais simples.

¿ Mas é preciso estar muito atenta porque não pode mais tomar injeção ¿ alerta Guerra. ¿ Se alguém, inadvertidamente, num hospital, der uma injeção, fura o silicone.

As brasileiras fazem muitas intervenções no rosto também. Mas, segundo a pesquisa, parecem preferir as não cirúrgicas. São as campeãs mundiais nas injeções de ácido hialurônico para preenchimento de rugas (foram mais de 300 mil no ano passado) e no tratamento com laser para o fotoenvelhecimento (81 mil). Elas aparecem em segundo lugar na aplicação de botox.

¿ O mundo hoje é muito competitivo, as pessoas estão cada vez mais vaidosas ¿ analisa Guerra. ¿ A pessoa liga a televisão e vê mulheres lindas, com rostos e corpos perfeitos e passa a querer aquilo também. Mas o que aconselhamos sempre é que a primeira beleza é a saúde. Não adianta, por exemplo, querer fazer plástica facial e ter os dentes em péssimas condições.