Título: Todos os democratas querem ter Miclelle Obama ao lado
Autor: Henderson, Nia-Malika
Fonte: O Globo, 15/08/2010, O Mundo, p. 41

Com popularidade superior à do marido, primeira-dama é a cabo eleitoral mais disputada na campanha legislativa

ALGUMAS DAS capas de revista ilustradas pela primeira-dama desde a posse

AO LADO do marido no palanque antes das eleições de 2008: Michelle tem 66% de aprovação, contra os atuais 45% de Barack Obama

Nia-Malika Henderson

WASHINGTON. Os esforços do governo americano para manter a maioria no Congresso se voltaram à primeira-dama, Michelle Obama, que vem sendo assediada por políticos para fazer campanha em prol dos democratas ameaçados. Ao contrário do marido, Michelle vem mantendo seu appeal entre as mulheres, os independentes, os novos e jovens eleitores que ajudaram à chegada de sua família na Casa Branca. Ela arranca elogios pelas campanhas que faz, como a de combate à obesidade infantil. Além disso, tornou-se uma espécie de ícone cultural e da moda, chamando um tipo de atenção diferente à Presidência americana. E, com um índice de aprovação de 66%, contra os 45% do marido, Michelle é hoje ¿ com folga ¿ a figura mais popular do governo Obama.

Ao mesmo tempo, a tática de incluí-la na campanha não é livre de riscos, já que cada passo de Michelle é seguido de perto pelos fãs e, principalmente, pelos adversários políticos. Suas recentes férias na Espanha com a filha Sasha, por exemplo, foram tachadas de extravagantes por muitos da esquerda e da direita ¿ num momento em que o país vive uma crise econômica.

Capacidade de arrecadar US$20 milhões

O nível de atenção só vai subir à medida que as eleições legislativas de 2 de novembro se aproximam, aumentando o medo entre os democratas de que Michelle possa fazer ¿ ou falar ¿ algo que cause ruído em sua mensagem política. Quando o marido concorria à Presidência, por exemplo, Michelle foi duramente criticada por ter dito a frase ¿pela primeira vez em minha vida adulta, estou orgulhosa de meu país¿; a direita chamou-a de antipatriota.

Um retorno de Michelle à campanha eleitoral será um teste para sua popularidade e pode ser determinante ¿ para o bem ou para o mal ¿ para as pretensões de reeleição de Barack Obama em 2012.

No entanto, os assessores mais influentes da Casa Branca concluíram que não há outra saída a não ser usar a primeira-dama na campanha para as legislativas. Michelle deverá aparecer a favor dos democratas onde as disputas são mais apertadas ¿ tanto para levantar fundos quanto para atrair eleitores.

¿ Michelle Obama é a figura mais popular do governo americano agora, com seu perfil de mulher forte que se preocupa com a família, com as crianças e com o país ¿ afirma Celinda Lake, uma estrategista democrata. ¿ A iniciativa dela de lutar contra a obesidade infantil é extremamente positiva junto aos eleitores, e aliar esta campanha com a de candidatos pode representar um importante ganho político.

A senadora democrata Barbara Boxer, que tenta a reeleição pelo estado da Califórnia, já pediu que Michelle aparecesse ao seu lado no palanque. O mesmo fez o deputado pelo estado da Pensilvânia Joe Sestak, que agora concorre ao Senado. Em julho, durante um encontro na Casa Branca com Obama, a líder da Câmara, Nancy Pelosi, pediu a ajuda de Michelle para arrecadar fundos. Segundo assessores da Casa Branca, a primeira-dama pode trazer, sozinha, um total de US$20 milhões aos cofres democratas.

Gerald Connolly, deputado da Virgínia que representa um distrito de população repleto de minorias, planeja pedir à primeira-dama que faça campanha ao seu lado.

¿Ela atrai pessoas que não frequentam eventos políticos¿, diz o deputado.

Trata-se de resultados, e a primeira-dama pode fazer a diferença. Apesar de suas dificuldades iniciais, ganhou grande número de pontos no final da campanha presidencial de 2008, recebendo o apelido de ¿the closer¿, por conseguir angariar os votos de eleitores negros americanos para seu marido.

Nos últimos dois anos, evitou a política partidária, passando por uma reforma que a transformou num ícone da cultura pop ¿ e foi capa de 12 revistas desde que se mudou para a Casa Branca.

Ocasionalmente, Michelle dá palpites em debates políticos sobre questões como planos de saúde, mas em geral, mantém o foco em suas questões, incluindo a educação de jovens mulheres e o cuidado com famílias de militares, além do trabalho de mãe.

Assessores da Ala Leste afirmam que Michelle quer muito se manter na sua zona de conforto, o que significa que terá suas próprias iniciativas, bem como as para o governo. Um teste para essa abordagem ocorreu em maio, quando liderou o evento da Comissão Nacional Democrata, e falou sobre conquistas do governo. O evento arrecadou US$1 milhão.

Apelo feminino numa ¿nação das mulheres¿

Até agora, o mais próximo que ela chegou de fazer campanha para um candidato foi uma aparição em junho com o senador Harry Reid (democrata de Nevada), quando Michelle lançou a sua iniciativa ¿Let's Move¿. Assessores da Ala Leste afirmaram que a aparição ocorreu num ¿evento oficial¿, apesar de ter todas as características de comício de campanha.

A Casa Branca espera que Michelle consiga fazer para Barack o que Laura fez para George (W. Bush) e os republicanos, que perderam a maioria na Câmara e no Senado há quatro anos. Na campanha, no entanto, Laura Bush compareceu a mais de 70 eventos, quando seu índice de aprovação estava duas vezes mais alto do que os 40% de seu marido.

¿ Ela foi incansável e foi em frente, fazendo tudo o que eles pediam ¿ disse Anita McBride, ex-chefe de seu gabinete. ¿ Mas esta não é a parte mais desejável do trabalho, e há sempre tensões entre as alas Leste e Oeste, porque são políticos e vão arrumar a programação mais agressiva possível, e a Ala Leste vai querer avaliar para saber se estão fazendo um mau uso dela ou um uso excessivo.

Sestak disse que a Casa Branca está ¿muito receptiva¿ ao seu pedido para ter a primeira-dama na campanha. Assessores inicialmente ofereceram o presidente, mas Sestak afirmou que a primeira-dama era sua primeira opção.

¿ É uma nação das mulheres, já que mais mulheres estão empregadas do que homens pela primeira vez nos Estados Unidos ¿ disse ele.