Título: Ponte inacabada vira caso de polícia
Autor: Maltchik, Roberto; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 15/08/2010, O País, p. 3

Irregularidades em obra no Ceará levaram PF a prender superintendente regional do Dnit

A dois meses do prazo de entrega, com a terraplanagem por finalizar e sem um centímetro de asfalto, a inauguração da ponte Juscelino Kubistchek na BR-304, que liga o Ceará ao Rio Grande do Norte, no município de Aracati, poderá ser adiada. Outras incertezas rondam o destino da Ponte sobre o Rio Jaguaribe, que integra o PAC. A obra está na mira da Controladoria Geral da União (CGU) por irregularidades que vão do superfaturamento a dúvidas sobre a segurança da construção.

Segundo relatório da CGU, três dos 12 tubulões (fundações da estrutura para suportar o peso dos veículos) não foram bem instalados, causando risco à estabilidade da ponte.

As irregularidades na obra foram um dos alvos da Operação Mão Dupla, deflagrada há dez dias pela Polícia Federal, que prendeu 22 pessoas, sendo 11 servidores do Dnit, inclusive o superintendente regional do órgão no Ceará, Guedes Neto. Ele acabou liberado mas, assim como outros sete envolvidos, permanecerá afastado por decisão judicial.

A obra foi iniciada em 2002 pela Delta Construção, empresa que mais recebe recursos do PAC. Por sete anos, as fundações que hoje levantam suspeitas da CGU permaneceram de molho nas águas do rio, enquanto a travessia era feita pela ponte velha, estreita para o fluxo de mão dupla e que agora está recebendo obra de reforço.

As suspeitas de irregularidades nessa e em mais duas obras tocadas pela Delta no Ceará levaram à prisão um de seus diretores, Aluízio Alves de Souza, na Operação Mão Dupla.

A Delta, que desistiu de construir a ponte, alegou elevação dos custos que dificultaram a realização do projeto inicial previsto no edital.

A construtora negou o superfaturamento, mas não se referiu aos riscos da construção.

O Dnit também não.

Em janeiro de 2009, após sete anos paralisada, a construção da ponte foi retomada pela construtora Heleno Fonseca. O GLOBO constatou quinta-feira que as obras estão paradas novamente. Segundo o Dnit, entre o reinício da construção, em janeiro de 2009, até maio deste ano, foram liberados R$ 27,3 milhões quase o total do contrato: R$ 29,4 milhões.

A CGU também levantou irregularidades no contrato da Heleno Fonseca, como superfaturamento na execução dos serviços.