Título: O fim das facilidades nas exportações
Autor:
Fonte: O Globo, 15/08/2010, Opinião, p. 6

Há frases ou termos referentes a conjunturas econômicas e políticas específicas que ficam para sempre. No auge do longo ciclo de crescimento econômico americano, em que as ações em Wall Street pareciam jamais perder o fôlego, o então presidente do BC dos Estados Unidos (o Fed), Alan Greenspan, se referiu àquele momento como de exuberância irracional. Quando, algum tempo depois, com Greenspan aposentado, a bolha das hipotecas explodiu, foi a vez de o bilionário Warren Buffett, diante das incertezas sobre a solidez de bancos, empresas e países, dar sua contribuição: É com a maré baixa que se vê quem está nu. Pois o mundo, em certa medida, ainda está nesta situação, atento à maré. A economia americana patina a decisão do Fed, há dias, de injetar liquidez no sistema é sintomática e mesmo indicadores positivos vindos da Europa, em que a vigoropróprias sa máquina econômica alemã reboca todo o bloco, não são ainda suficientes para garantir que se saiu de maneira definitiva do ciclo recessivo.

O Brasil, internamente, passa por bom momento, enaltecido entre fanfarras devido à campanha eleitoral. Mas, por óbvio, a conjuntura mundial o afeta como o fez mergulhar em parafuso no final de 2008 , e coloca à frente do próximo governo algumas tarefas.

Destravar o comércio exterior do país é uma delas.

Está claro que o novo governo terá de conviver com um cenário mundial diferente daquele de que se beneficiou o presidente Lula, desde a posse, em 2003, até setembro de 2008, quando explodiu a bolha em Wall Street. As exportações nacionais foram bastante impulsionadas pelo ciclo histórico de crescimento mundial sincronizado, em particular pela China, insaciável consumidora de matérias-primas. E foi assim, principalmente em função da venda de minérios e alimentos, que a economia brasileira conseguiu o feito histórico de, por meio de superávits comerciais, saldar a dívida externa, inclusive a contraída junto ao FMI. Mas a participação do país no comércio mundial se manteve estável na faixa de medíocre 1% em todo este tempo. O Brasil não teve tanto mérito na acumulação desses saldos. Ele é mais comprado do que vende por esforço e competência próprios. Não se venha a ressuscitar a crítica ao câmbio. O Brasil precisa deixar no passado o tempo em que deficiências vigoropróprias eram encobertas pela desvalorização da moeda. Leia-se: redução do poder de compra da população. A fase que já se iniciou no mundo impõe ao próximo governo não mais adiar os investimentos na infraestrutura de transporte e portos, por exemplo, nem fingir que não existe o problema da carga tributária.

Outra tarefa incontornável é ativar para valer o Mercosul, paralisado durante oito anos em função do viés ideológico terceiromundista de Brasil e Argentina. A Alca foi rejeitada por se originar dos americanos.

Sequer negociou-se a sério, mesmo que os EUA sejam o maior mercado importador do mundo. Com o fracasso da Rodada de Doha, restavam os acordos bilaterais. Há pouco, o Mercosul assinou um acordo com o... Egito. Antes, firmara outro, com Israel.

Dispensam-se comentários. Agora, mais do que nunca, exportará quem for mais eficiente, e trabalhar sem bravatas.