Título: Mais papel, mais atraso
Autor: Vieira, Eduardo Eugenio Gouvêa
Fonte: O Globo, 17/08/2010, Opinião, p. 7

Em boa hora o governo federal entendeu as colocações de empresários e sindicalistas e adiou, de agosto para novembro, a entrada em vigor da por taria (número 1.510/2009), que, ao disciplinar o uso do ponto eletrônico, obriga à adoção de novos equipamentos que imprimem um comprovante.

Ganhamos, assim, uma nova chance de mostrar de maneira simples e didática ao Ministério do Trabalho que a exigência provocará um grande retrocesso em aproximadamente 3 milhões e 100 mil empresas de todo o país.

Para o governo federal, o objetivo é evitar fraudes. Supondo-se a visão preconceituosa de que há empresas dispostas a fraudar os registros para ganhar alguns minutos diários do trabalhador, criase um monstro burocrático, caro e ineficaz, quando uma sensata fiscalização por amostragem bastaria.

E o pior é que, embora descarte todos os equipamentos, computadores e relógios de ponto em uso atualmente, continuará permitido o antiquado processo de registro manual com a digitalização de planilhas.

Uma incoerência.

Cada novo equipamento custa cerca de R$ 4 mil, impactando fortemente a grande maioria das empresas, formada por micro e pequenos empreendimentos.

Calcula-se que a obrigação da impressão do registro diário, a cada entrada e saída do empregado, resultará em comprovante impresso de 10 centímetros de papel.

Em um mês, serão dois metros, 24 metros por ano. Ao fim de cinco anos, cada um terá guardado 120 metros de papel. Um absurdo.

Considerando o total de 39,4 milhões de trabalhadores sujeitos a essa portaria, estamos falando de 4,7 milhões de quilômetros de papel a cada cinco anos, o que equivale à derrubada de 367 mil árvores.

É algo inaceitável.

Como argumento definitivo, lembramos um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) que concluiu que, se cada trabalhador gastar diariamente dez minutos na fila para registrar seu ponto e receber seus comprovantes impressos, ao fim do ano terá perdido cerca de 40 horas em filas, algo equivalente a R$ 60,5 bilhões do PIB desperdiçados.

Prejuízos para empresas e funcionários.

E, obviamente, para a economia do país.

Enfim, uma volta ao passado.

Ou melhor, a verdadeira volta do futuro.

EDUARDO EUGENIO GOUVÊA VIEIRA é presidente da Federação das Indústrias do Estado do Rio.