Título: Capitalização da estatal será em 30 de setembro
Autor: Almeida, Cássia; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 17/08/2010, Economia, p. 23

Definição do preço do barril da cessão onerosa sairá no dia 31 deste mês. Gabrielli nega problema de caixa

BRASÍLIA e RIO. A definição do preço dos até cinco bilhões de barris de petróleo do pré-sal da Bacia de Santos que a União cederá, mediante pagamento, à Petrobras deverá ser conhecida até o dia 31 deste mês. Isso permitirá a formatação final da capitalização da Petrobras, que foi marcada para 30 de setembro, informou o ministro de Minas e Energia, Marcio Zimmermann. A data é dois dias antes das eleições. O cronograma foi fechado em reuniões conduzidas ontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Participaram também os ministros da Casa Civil, Erenice Guerra, e da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli.

Segundo Zimmermann, na quintafeira a certificadora internacional Gaffney, Cline & Associates entregará à direção da Agência Nacional do Petróleo (ANP) seu trabalho de avaliação.

A empresa foi contratada pelo órgão regulador, que cuidou dos interesses da União. A certificadora DeGolyer & MacNaughton, contratada pela Petrobras, também avalia as reservas.

A partir de então e durante ao menos quatro dias serão discutidos os estudos das empresas, que informarão a cotação final do barril de petróleo das reservas cedidas, que será fixada pela ANP, à qual caberá também a formatação do contrato de cessão.

Quanto ao preço que será fixado, o ministro disse que é necessário aguardar o estudo. Mas acredita que para águas profundas o valor pode ser entre US$ 5 e US$ 10 o barril, valores dentro do previsto por analistas do mercado.

Zimmermann reconheceu que é um cronograma apertado, mas disse que o governo está comprometido.

Inicialmente, a Petrobras anunciou que faria a capitalização até o fim de julho. Porém, a ANP não contratou a certificadora para avaliar as reservas em tempo hábil. A estatal tentou que o governo fechasse o preço do barril com os dados da DeGolyer & MacNaughton, o que foi vetado pelo Palácio do Planalto. O governo, então, dispensou a ANP de fazer licitação para a contratação, acelerando o processo.

Gabrielli: Petrobras vai cumprir programa de investimentos Em 22 de junho, a Petrobras anunciou o adiamento da capitalização para setembro para aguardar o estudo contratado pela ANP. No mesmo dia, foi aprovado por assembleia o valor limite do aumento de capital, de até R$150 bilhões R$ 60 bilhões em ações preferenciais (PN, sem direito a voto) e R$ 90 bilhões em ordinárias (ON, com direito a voto).

O valor final da capitalização dependerá da cessão onerosa, sistema pelo qual o governo federal cederá à Petrobras o direito de explorar cinco bilhões de barris de petróleo em áreas do pré-sal ainda não concedidas. Em pagamento, o governo receberá de volta os títulos públicos que emitir para comprar ações da Petrobras. Portanto, as operações são casadas, para que a União calibre sua participação no aumento de capital sem desembolsar dinheiro e mantenha sua fatia na Petrobras inalterada.

Antes da reunião em Brasília, Gabrielli garantiu, no Rio, que a Petrobras tem capacidade financeira para cumprir seu programa de investimentos do ano, de R$ 88,6 bilhões, sem depender da capitalização. Segundo ele, a capitalização é para garantir a saúde financeira de longo prazo da empresa, que tem R$ 24 bilhões em caixa.

A Petrobras não tem problemas de caixa, precisa melhorar sua estrutura de capital, que é um indicador de longo prazo afirmou.

Na sexta-feira, ao divulgar o balanço do primeiro semestre, a Petrobras revelou que seu nível de endividamento representa 34% de seu patrimônio.

Analistas manifestaram preocupação com o endividamento. Pedro Galdi, da SLW Corretora, disse que o endividamento de R$ 94,2 bilhões no segundo trimestre aproxima-se cada vez mais do limite aceitável pelas agências de classificação de risco, de 35%: Se o endividamento superar 35%, a Petrobras poderá ter sua avaliação de risco rebaixada, o que provocaria uma forte queda nas ações.

As ações PN da Petrobras tiveram queda de 0,18% na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem. Os papéis ON recuaram 0,22%.

Estudo da Organização Nacional da Indústria do Petróleo prevê que o setor offshore gere até 2 milhões de empregos na próxima década para responder a US$ 400 bilhões em investimentos.

No entanto, se a indústria nacional não se capacitar, esse número pode cair para 400 mil postos.