Título: P-33 na mira do Ministério Público
Autor: Almeida, Cássia; Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 17/08/2010, Economia, p. 23

Depois das denúncias publicadas no GLOBO sobre os riscos aos trabalhadores na plataforma P-33, da Petrobras, que acabaram levando à sua interdição pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), o Ministério Público do Trabalho (MPT) abriu ontem inquérito para investigar as condições de segurança na P-33 e também na P31 e na P-35, que operam na Bacia de Campos. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, admitiu ontem que a P-33 e outras plataformas têm problemas de conservação: Elas estavam feias (as plataformas), estavam com problemas, precisando talvez de alguma coisa de conservação. Admito que têm problemas de conservação, mas nós jamais colocaríamos nossos trabalhadores e nossos sistemas em risco disse Gabrielli, na sua primeira declaração pública sobre o assunto.

Ontem, a Superintendência Regional do Trabalho recebeu relatório do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (SindipetroNF) denunciando problemas na plataforma P-31 semelhantes aos que levaram à interdição da P-33. Fotografias obtidas pelo GLOBO mostram tubulações danificadas e com ferrugens na P-31, já apelidada pelos petroleiros de sucatão.

Em mobilização convocada pelo sindicato, trabalhadores de 11 plataformas produtoras de petróleo e gás da Bacia de Campos funcionaram ontem em ritmo de operação padrão, para denunciar as péssimas condições de segurança e conservação das unidades da Petrobras. A data para a operação padrão foi escolhida para marcar os 25 anos do acidente na plataforma de Enchova, quando 37 trabalhadores morreram na queda de uma baleeira. Os sindicalistas pedem também a interdição dessa unidade ao Ministério do Trabalho.

Remendos feitos de madeira e plástico

No relatório sobre a P-31 enviado pelo sindicato à Superintendência do Trabalho, fica evidente que a corrosão já atingiu partes importantes da plataforma. No documento, há informações de que há um vazamento em uma linha de gás que vem sendo monitorada há oito meses.

Um documento interno, obtido pelo sindicato, orienta os trabalhadores a terem sempre à mão braçadeiras, estojos, chaves combinadas e borrachas vazadas para poder conter um vazamento a qualquer momento. De acordo com o sindicato, virou o kit do operador na plataforma.

Segundo o relatório, há constantes furos nas linhas de tratamento, de petróleo e água, ocasionando grandes vazamentos. Há linhas remendadas até com braçadeira plástica e de madeira, afirma o documento com as pendências de segurança enviado aos auditores fiscais do trabalho. Há ainda alto grau de corrosão.

Nas pendências de seguranças listadas pelo sindicato, por meio de relatos dos trabalhadores, consta que uma área do convés principal está interditada e a passarela em frente à praça de máquinas está sem condições de uso. Vários canhões de incêndio estão com as tubulações furadas. Além disso, o equipamento que registra o balanço do navio não é confiável, denunciaram os trabalhadores.

Até no desembarque dos trabalhadores houve problemas, que já foram parcialmente resolvidos. Houve casos de petroleiros que ficaram cinco dias a mais embarcados, sem conseguir voltar para casa. As baleeiras, mesmo transporte que causou a morte de 37 petroleiros há 25 anos atrás na evacuação da plataforma de Enchova, estão em péssimo estado de conservação, relatou o sindicato.

O sistema de intercomunicação está com problemas, a ponto de não ser ouvido no convés principal do navioplataforma, na planta de processo e na praça de máquinas. Se houver alguma emergência, haverá dificuldade de mobilizar para evacuação dos mais de 150 petroleiros da unidade. Outro risco para os petroleiros: as rotas de fuga da planta de processo estão totalmente apagadas pela corrosão, diz o documento.

Os trabalhadores denunciaram ainda que o guindaste é operado à noite, sem qualquer segurança.

Os trabalhadores relataram que há também problemas nos alojamentos, com frequentes vazamentos nos banheiros dos camarotes, deixando os locais contaminados e com mau cheiro.

Os petroleiros afirmam que as caldeiras estão paradas e o banho é frio, já que a resistência dos chuveiros não aquece a água. Além disso, relatam que têm havido constantes princípios de incêndio na cozinha.

Enquanto esperam que a P-31 também passe pela mesma reforma que a P-33, os petroleiros das plataformas Vermelho 2, Namorado 2, Cherne 2, Carapeba 2, P -19, P-26, P-35, P-40, P-48, P-50 e P-8, que somam cerca de 800 funcionários, fizeram uma operação padrão, que consistiu, segundo Marcos Breda, diretor de Comunicação do SindipetroNF, em fazer todos os procedimentos operacionais e de segurança exigidos para o funcionamento das unidades.

Gabrielli: produção não foi afetada

O presidente da Petrobras afirmou ontem que a situação na plataforma P-33 não oferece qualquer risco à segurança operacional e aos trabalhadores.

Nós contestamos a interdição da ANP porque não tem sentido o que a agência nos solicitou. A ANP decidiu cautelarmente fazer essa interdição explicou Gabrielli ao afirmar que vai aguardar o resultado das auditorias que estão sendo feitas pela Marinha e pelas agências certificadoras.

Gabrielli demonstrou não estar preocupado com o movimento de 24 horas de operação padrão na Bacia de Campos. Ele lembrou que os trabalhadores estão em campanha salarial, com data-base em setembro.

mdash; O sindicato legitimamente está em campanha salarial e em campanha em defesa dos trabalhadores. É legítima a ação do sindicato. A nossa avaliação é que não há nenhum risco operacional nas plataformas, não há nenhum risco para a integridade das pessoas. As plataformas estavam em fase de pré-parada programada garantiu Gabrielli.

Ele disse que o movimento sindical acontece todos os anos em sua campanha salarial.

Todo ano tem isso. A Petrobras é uma empresa democrática, respeitamos o movimento sindical e mantemos o permanente diálogo. Estou surpreendido pela preocupação e pelo interesse do GLOBO em cobrir isso agora, porque há seis anos não cobre ironizou Gabrielli.