Título: Censo 2010 já visitou 16,5% dos lares brasileiros
Autor: Setti, Rennan; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 17/08/2010, Economia, p. 29

Mas faltam recenseadores em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. IBGE fará novo concurso para 2 mil vagas

O mercado de trabalho aquecido obrigará o IBGE a abrir um novo concurso para recenseadores em São Paulo, Paraná e Santa Catarina. Passados 15 dias do início das entrevistas do Censo 2010, faltam recenseadores nesses estados. Segundo Eduardo Nunes, presidente do IBGE, no concurso realizado no primeiro semestre, enquanto a procura foi de sete candidatos para cada vaga de recenseador; nesses estados a relação foi de quatro para um. Nunes também acredita que muitos dos aprovados tenham desistido por ter arrumado outro emprego.

No primeiro balanço do Censo 2010, o IBGE informou que até a manhã de ontem 16,5% dos 58 milhões de domicílios brasileiros já tinham sido visitados.

Ao todo, os recenseadores levantaram informações de 33 milhões de brasileiros (ou cerca de 17% da população).

Com o novo concurso, o IBGE quer preencher duas mil vagas de recenseadores. Ainda não há edital para a seleção, mas o IBGE informou que ela ocorrerá em breve, de forma simplificada, para que os aprovados comecem já em setembro.

A grande maioria das vagas será para São Paulo. Hoje, 185.148 recenseadores fazem a coleta de dados para o censo.

Censo anda mais devagar nas regiões Sul e Sudeste A falta de recenseadores juntamente com um atraso na entrega de coletes em Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina explica o fato de a coleta de dados do censo estar mais lenta nas regiões Sul e Sudeste.

Até sexta-feira passada, 11% dos domicílios de São Paulo e 8,2% dos gaúchos a menor taxa do país já haviam sido visitados. As coletas mais velozes ocorrem em Rondônia (28,2%) e Sergipe (27,2%). No Rio, 18,6% dos domicílios já receberam recenseadores.

No condômino Barra Golden, na Barra, o morador José Aloysio de Oliveira espalhou 14 cartazes para avisar que ele mesmo estaria no prédio para fazer as entrevistas para o IBGE. Afinal, muitas vezes, é preciso criatividade para ser recebido nas residências da classe média.

Além da desconfiança, a pressa atrapalha na coleta para o censo. Mas estou disponível 24 horas por dia.

Vizinho de Oliveira, o advogado Agnésio Saraiva, de 74 anos, respondeu ao questionário lembrando que, em 1960, era ele um dos recenseadores.

Como mora sozinho, a entrevista durou só seis minutos.

Na minha época não havia colete, nem boné. Eu vestia um terno para mostrar respeito e carregava uma pasta bege comentou, saudoso, o advogado, que acredita que hoje, com o acesso maior à informação, o trabalho do censo é mais fácil.

A síndica Deusa Maria da Silva deu o exemplo no Barra Golden, abrindo as portas de sua casa para Oliveira: Eu quero ajudar.

No Morro Dona Marta, em Botafogo, o começo do censo foi mais cartográfico do que demográfico. Isso porque as mudanças na geografia local foram tantas desde a última pesquisa que os recenseadores tiveram que dedicar parte do tempo atualizando os mapas.

Na rota do recenseador (e morador) Wesley da Paz, de 27 anos, por exemplo, o que era o Beco dos Prazeres tornou-se duas ruas sem saída: um morador construiu um muro bem no meio da via. Várias casas também foram removidas para a construção de um teleférico.

Revi os mapas durante um dia inteiro de trabalho. Depois, as entrevistas fluíram bem, já que conheço quase todo mundo disse Wesley, um dos sete recenseadores do Dona Marta, que já aplicou o formulário em 70 dos estimados 500 domicílios do seu setor.