Título: Juiz eleitoral sofre atentado
Autor: Carvalho , Jailton
Fonte: O Globo, 19/08/2010, O País, p. 3

Quatro homens encapuzados e armados com escopetas e pistolas tentaram matar com 30 tiros, em Aracaju, o presidente do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Sergipe, o desembargador Luiz Antônio Araújo Mendonça, de 61 anos. No atentado, cometido às 9h da manhã em plena Avenida Beira Mar, o motorista do desembargador, o cabo da PM Jailton Pereira Batista, foi atingido por quatro tiros, um deles na cabeça, e está internado em estado gravíssimo.

Após se reunir com o presidente Lula, o governador de Sergipe, Marcelo Déda, disse que não acredita em motivação política. Segundo ele, a polícia trabalha com a suspeita de que o atentado tenha sido cometido a mando do agiota Floro Calheiros, que fugiu da prisão, em Aracaju, em dezembro de 2008. Mendonça foi promotor e duas vezes secretário de Segurança em Sergipe, e Calheiros teria cometido o crime por vingança.

Apesar da declaração do governador, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Cezar Peluso, divulgou nota pedindo aos órgãos de segurança federais e estaduais que "redobrem a atenção quanto à proteção da integridade física dos magistrados", principalmente dos envolvidos no processo eleitoral. Lula ofereceu - e o governador aceitou - a participação da Polícia Federal nas investigações. A PF deverá atuar em parceria com a Polícia Civil.

- Uma coisa eu posso dizer com segurança, é um sentimento da polícia e meu também: não tem nenhuma ligação com a eleição. Não tem nenhum vínculo político-eleitoral - disse Déda ao GLOBO.

Depois da reunião com Lula, Déda descartou a possibilidade do uso da Força Nacional de Segurança ou do Exército nas eleições de outubro em Sergipe:

- Não há nada que justifique a Força ou o Exército para garantir o pleito. A polícia do estado tem condições de garantir a segurança.

Antes de fugir, em 2008, Floro Calheiros teria deixado uma lista de 17 pessoas marcadas para morrer. Entre os alvos estaria Mendonça, que foi secretário de Segurança na gestão do ex-governador João Alves (DEM), que tenta voltar ao cargo nestas eleições. Déda, que estava em Brasília, conversou com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski. O governador disse não acreditar em motivação política porque há nenhuma decisão do presidente do TRE que tenha sido drástica.

O desembargador sofreu o atentado quando ia de casa para o trabalho num carro oficial. Quatro homens o seguiam num Honda Fit. Quando o carro de Mendonça parou num sinal vermelho, eles desceram do Honda e atiraram 30 vezes. Os disparos atingiram a lataria e o vidro traseiro. Um dos tiros deixou um buraco no porta-malas. O desembargador, no banco de trás, foi atingido por estilhaços de balas e vidro. Ele deve receber alta hoje ou amanhã.

O secretário de Segurança, João Elóy de Menezes, considerou um milagre o desembargador escapar. Depois do atentado, os criminosos atearam fogo no Honda e abandonaram o carro, que tinha sido furtado em Alagoas há duas semanas. A polícia montou barreiras nas estradas de acesso a Sergipe.

- Fiquei em pânico. Foi muito forte ver o carro alvejado - disse a mulher do desembargador, a procuradora-chefe do Ministério Público de Sergipe, Maria Cristina Mendonça, que viu o carro usado pelos criminosos e acha que "foi crime de mando".

Mendonça deixou a Secretaria de Segurança em 2005. Floro Calheiros teve em rixa com Mendonça em 2001, quando era secretário de Finanças do município de Canindé de São Francisco e foi indiciado por furto de urna eletrônica. A investigação partiu de Mendonça, que à época era promotor de Justiça na cidade.

Em 2003, Calheiros foi preso pela 1ª vez. Mendonça era secretário de Segurança. O agiota é acusado de envolvimento em 11 homicídios, entre eles o de um ex- deputado e um delegado. A Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e a Associação dos Magistrados de Sergipe (Amase) divulgaram nota em repúdio ao atentado. "A AMB e Amase cobram rigor na apuração do caso e anunciam que envidarão todos os esforços no sentido de exigir e auxiliar os órgãos competentes na elucidação dos fatos e responsabilização dos culpados", diz o texto.

COLABOROU: Agência A Tarde