Título: Vagas no petróleo
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 16/08/2010, Economia, p. 20

Em 2007, o número de novos profissionais necessários para trabalhar na cadeia de produção do setor de petróleo no Brasil estava estimado em 112 mil. Com base nos investimentos programados, tal número foi revisto para quase 208 mil, sendo a maior parte de 2011 a 2014. Esta semana começará o processo de seleção de candidatos a 30 mil vagas em novos cursos de qualificação.

A demanda por mão de obra cresceu assim também em função dos projetos previstos para o pré-sal. No período de 2003 a 2005, a Petrobras investiu no país uma média anual de US$5,8 bilhões. Depois de 2006 os investimentos da estatal se aceleraram, chegando a US$31,2 bilhões no ano passado. Para 2010, a previsão ultrapassa os US$40 bilhões, devendo ficar acima desse patamar pelo menos até 2014.

Não há dando sopa no mercado gente suficientemente preparada para trabalhar no setor de petróleo, incluindo fornecedores de equipamentos e prestadores de serviços. Por isso, desde 2007 um programa chamado Prominp (custeado basicamente por fundos criados pela lei do petróleo) treinou cerca de 53 mil pessoas - outros 26 mil ainda estão em fase de qualificação profissional, desde operários para obras civis específicas até universitários em busca do primeiro emprego. Na última seleção feita pelo programa, a maior procura foi, proporcionalmente, pelos cursos de operadores de sondas de perfuração de poços de petróleo (nove candidatos para cada vaga). Mas há também casos em que o total de vagas oferecidas ultrapassa o de candidatos.

Embora o Rio concentre a produção de petróleo e gás, os investimentos do setor já se espalham por vários estados. Pernambuco abrigará uma nova refinaria e já tem um grande estaleiro construindo navios petroleiros. O Maranhão também terá uma nova refinaria e provavelmente campos produtores de gás.

Por sugestão do Ministério do Desenvolvimento Social, nesses estados mais pobres o Prominp está patrocinando cursos de reforço escolar (aulas de português, matemática e raciocínio lógico), de nível fundamental ou médio, para que beneficiários do Bolsa Família tenham condições de se candidatar a vagas nos processos seletivos - todos têm que passar por uma prova, aplicada em uma mesma data em diferentes estados, exatamente para que as vagas sejam preferencialmente preenchidas por pessoas que vivam em cidades próximas ou na região onde existe a demanda por novos profissionais.

Os cursos de qualificação do Prominp levam geralmente de dois a nove meses. Para evitar evasão e desistências, os participantes dos cursos recebem bolsas de estudos ou ajuda de custo.

Por estado, a necessidade de capacitação de mão de obra estimada pelo Prominp é mais elevada no Rio de Janeiro (43.764 pessoas), Maranhão (22.692), São Paulo (19.756), Ceará (16.125) e Pernambuco (15.931).

A preparação de candidatos para trabalhar na cadeia produtiva do petróleo foi a tarefa mais urgente do Prominp. O segundo desafio é ampliar o número de empresas capacitadas a fornecer peças, componentes, equipamentos ou prestar serviços para o setor. A Petrobras detalhou toda essa demanda potencial, que está disponível em um portal do Prominp na internet. Cerca de três mil fornecedores se cadastraram - única imposição para se ter acesso ao portal - e a partir desses dados foi possível montar um sistema de busca e obter respostas para as perguntas "quem vende o que eu compro?" ou "quem compra o que eu vendo?". Não é permitida a participação de importadores, pois o Prominp tem como propósito a "mobilização da indústria nacional de petróleo e gás natural". E nesse processo já foi possível identificar uma série de obstáculos e dificuldades para que as indústrias brasileiras aproveitem as oportunidades oferecidas pelos investimentos do setor - até porque as companhias operadoras dos blocos licitados pela Agência Nacional do Petróleo se comprometeram a atingir determinados percentuais de conteúdo nacional em suas encomendas.

O surpreendente é que os maiores desafios para as empresas não estão no topo da tecnologia (dessa fronteira as companhias de petróleo se encarregam muito bem) mas sim no convencional, observa o coordenador executivo do Prominp, José Renato Ferreira de Almeida, engenheiro da Petrobras que foi destacado para essa função.

Sem identificar as empresas, a Petrobras enumerou as dificuldades de seus fornecedores, e o Prominp se encarregou, com apoio da ANP, do Ministério da Ciência e da Tecnologia, via Finep, e do BNDES, de patrocinar iniciativas junto a universidades que permitam a indústria brasileira ganhar competitividade. Pelas estimativas do Prominp, o aumento do percentual de conteúdo nacional para 77,3% nas encomendas da indústria do petróleo incrementou a demanda interna em US$19,6 bilhões e ajudou a criar 815 mil postos de trabalho na economia brasileira.

Uma curiosidade: o Prominp nem existe como figura jurídica. Apenas vinte pessoas se dedicam exclusivamente ao planejamento e execução do programa. Os levantamentos e estudos são elaborados por empresas de consultoria.

Em seu primeiro poço a OGX confirmou a existência de gás natural na Bacia do Parnaíba, em bloco terrestre. Os levantamentos sísmicos indicavam essa possibilidade, mas a descoberta por si só não é uma garantia que o campo é comercial. Novos testes terão de ser feitos para se avaliar se há mesmo uma grande província de gás natural nessa região do Maranhão e do Piauí. Tomara que essa hipótese seja logo comprovada. Seria bom para a região e para o Brasil. De qualquer forma, a Bolsa já está comemorando por antecipação.