Título: Multiplicando o lucro com o chapéu alheio
Autor: Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 16/08/2010, Economia, p. 22

Com a instabilidade da Bolsa, aluguel de ações cresce 43% e contratos negociados no mercado futuro, 80%

O EMPRESÁRIO Daniel Wenna investe em contratos de opções há anos. Para ele, vantagem é retorno maior

A instabilidade da Bolsa este ano está fazendo com que duas alternativas ao mercado de ações à vista ganhem espaço entre os investidores pessoas físicas: os contratos de opções de ações e de aluguel de papéis, que se tornaram mais atraentes. No aluguel de ações, o investidor recebe o pagamento de uma taxa para emprestar seus papéis por um período determinado, geralmente de 30 dias. O número de operações desse tipo cresceu 43,84% só este ano no país, segundo a BM&F Bovespa. Já os contratos de opções, negociados no mercado futuro, tiveram crescimento de 80% no primeiro semestre deste ano, frente ao mesmo período de 2009.

¿ Em 2010, está muito difícil prever como vai se comportar o mercado. E com isso é preciso partir para essas alternativas ¿ aponta o diretor executivo da ICAP Brasil, Paulo Levy.

Corretoras estão divulgando mais contratos de aluguel

Com o aluguel de ações, o investidor (chamado no mercado de doador) consegue uma remuneração extra mesmo sem vender os papéis. Do outro lado, quem aluga a ação (chamado de tomador) acredita que o preço do papel vai cair. Durante a vigência, ele pode negociar o papel e embolsar os ganhos antes de comprar novamente as ações por um preço menor para devolvê-las ao dono.

O chefe da mesa de operações da HSBC Corretora, Frederico Soares, explica que não só a procura por essas operações por pessoas físicas foi maior, como elas foram oferecidas pela corretora como um caminho interessante para garantir os ganhos. Lá, o volume de aluguel de ações aumentou 100% no primeiro semestre, frente a igual período do ano passado.

O aluguel de ações costuma fazer parte das chamadas operações de arbitragem de ações, conhecidas no mercado como long/short, em que o investidor compra e vende ações para ganhar na diferença média entre o preço de duas ações, geralmente da mesma empresa ou dentro do mesmo setor. A estratégia pressupõe que essa diferença entre os papéis costuma se manter no mesmo nível. Se foge disso, é que o preço de um dos papéis deve subir e o outro, cair.

Na avaliação do diretor de Administração de Risco da BM&F Bovespa, Luis Antônio Vicente, o aumento do aluguel de ações se deve, por um lado, à maior divulgação do produto pelas corretoras e também pela expansão de estratégias mais sofisticadas. Segundo ele, não se pode atribuir o movimento apenas ao ambiente de maior volatilidade. Por um lado, diz o executivo, este cenário é mais próspero para estratégias mais sofisticadas, mas também torna os investidores mais cautelosos com alavancagem (aplicação maior que o patrimônio).

Ferramenta on-line para operar com opções

É o caso dos contratos de opção de ação ¿ negociado na Bolsa de Mercadorias & Futuros, a BM&F ¿, que dão o direito de comprar (opção de compra) ou vender (opção de venda) uma ação por um determinado preço até a data de vencimento. O comprador paga um valor fixo por este direito, que poderá ser exercido (ou seja, o investidor pode efetivamente comprar a ação) ou não. A partir desses contratos, são montadas estratégias complexas para operar no mercado, algumas com mais ou menos risco, por isso, não são indicadas para principiantes e exigem tempo e conhecimento para evitar perdas elevadas.

¿ Mercado de opções não é coisa de novatos. Lançamos uma ferramenta on-line com mais de cem estratégias pré-configuradas de opções, mas também oferecemos uma consultoria detalhada e o cliente tem que falar com a mesa para fechar a operação ¿ explica Paulo Levy, da ICAP Brasil.

O empresário Daniel Wenna é um dos clientes da corretora que opera com opções de ações. Com mais de dez anos de experiência de mercado financeiro, ele já perdeu dinheiro há muitos anos, mas voltou a essas operações.

¿ A operação com opções tem mais riscos, mas permite um retorno maior que o mercado à vista ¿ afirma ele, destacando a importância do suporte da corretora na hora de decidir sua estratégia.

O diretor de renda variável da BM&F Bovespa, Julio Ziegelmann, lembra que, se por um lado a operação de opção de ação permite que o investidor se proteja ou arrisque menos, também pode ser usada para alavancagem.

¿ Portanto, tem que ser usada com cuidado ¿ alerta.

O superintendente de estratégias de varejo, private banking e ações do Santander, Hugo Daniel de Oliveira Azevedo, diz que não recomenda o investimento em opções para o investidor que não tem tempo de acompanhar o mercado.

¿ O investidor deve já ser um iniciado e é preciso de atenção o tempo todo.

Na Ágora Corretora, explica o gerente comercial Hélio Pio, são enviados relatórios aos clientes que mostram os diferentes cenários, tanto de ganhos, quanto de perdas.

¿ Existe um apelo maior junto a pessoas físicas que já entendem melhor o mercado de ações. Mas sempre deixamos claro os riscos envolvidos.

A mesma preocupação ocorre na Prosper Corretora. Segundo o analista Ewerton Zacharias, é preciso explicar ¿muito detalhadamente¿ a operação ao investidor, para evitar qualquer problema de entendimento. A corretora também faz uso de relatórios que apontam em números os riscos de perdas dos clientes nas operações.