Título: Alerta sobre analgésicos
Autor: Marinho, Antônio
Fonte: O Globo, 18/08/2010, Ciência, p. 38

Estudos associam paracetamol ao aumento do risco de alergias e asma

Dois novos estudos, um com bebês e outro com adolescentes, confirmam que um dos analgésicos mais vendidos no mundo, o paracetamol (há mais de 15 marcas com essa substância e a mais conhecida é o Tylenol) pode disparar crises alérgicas e piorar a asma. A droga é muito receitada contra dor e febre, além de ser a única indicada no alívio de sintomas da dengue.

Os dados foram publicados no ¿American Journal of Respiratory and Critical Care Medicine¿ e envolveu 322 mil adolescentes, de 13 a 14 anos, em 50 países. O grupo que tomou paracetamol (acetaminofeno) pelo menos uma vez por mês (um terço do total e mais de quatro em cada dez americanos) teve 2,5 vezes mais chance de asma.

Em outra pesquisa, na mesma edição, a equipe de Alemayehu Amberbir, das universidades Addis Abeba, na Etiópia, e Nottingham, no Reino Unido, acompanhou mil bebês etíopes por três anos. O grupo que tomou paracetamol no primeiro ano ¿ antes de ter sintoma de dificuldade respiratória ¿ apresentou até sete vezes mais risco de asma.

Para o coordenador do estudo com adolescentes, Richard Beasley, professor do Medical Research Institute da Nova Zelândia, o paracetamol ainda é um dos melhores no alívio de dor e febre em crianças, e é mais seguro do que aspirina ou o ibuprofeno em pacientes com asma. Mas, embora o seu estudo não comprove que o paracetamol tem relação direta com a asma, a droga potencializa a resposta do sistema imunológico, piorando as alergias.

Médicos brasileiros lembram que estudos anteriores sugeriram que o paracetamol, assim como o ácido acetilsalicílico (aspirina) e outros anti-inflamatórios, como ibuprofeno, causam alergias ou agravam a asma. Porém, até o momento, o paracetamol era visto como o mais seguro. Em 2008, estudo com 200 mil crianças em 31 países, pelo Programa de Estudo Internacional de Asma e Alergias em Crianças, publicado na revista ¿Lancet¿, revelou que em crianças de 6 e 7 anos é comum o diagnóstico de queixas alérgicas após tratamento com paracetamol.

Em resumo, os médicos alertam que não se deve abusar de analgésicos ou anti-inflamatórios, mesmo o paracetamol, diz a pediatra Adriana Proença, coordenadora de assistência do Hospital Federal da Lagoa. Assim como a dipirona aumenta o risco de doenças da medula óssea:

¿ É importante usar esses remédios com muito critério. Há casos em que a febre sobe pouco e os pais recorrem a analgésico, antitérmico. Melhor falar antes com o médico.

O imunologista e alergologista Mario Geller reconhece que o paracetamol pode piorar alergias respiratórias, mas isso não significa que a droga é causa direta da doença.

¿ Infecções das vias respiratórias ou mesmo um resfriado, situações que levam a usar paracetamol, podem provocar alergias e asma. Então não temos certeza se o efeito é causado pela droga ¿ diz.

Droga é a mais segura na dengue

Nos casos de alergias respiratórias e asma, ele também acha que o paracetamol ainda é mais seguro que a aspirina e antiinflamatórios:

¿ Cerca de 20% das pessoas com urticária e angioedema pioram com aspirina e ibuprofeno. Há a opção de pirazolona e dipirona, mas também com efeitos adversos.

E nos pacientes com dengue?

¿ O paracetamol ainda é o indicado. Se o paciente tomar ácido acetilsalicílico, poderá ter consequências graves. E jamais associe paracetamol e álcool. Há risco de insuficiência hepática grave ¿ alerta.

Em comunicado, a Johnson & Johnson, fabricante do Tylenol, diz que ¿o bem documentado perfil de segurança de paracetamol faz com que ele seja o analgésico de preferência nos casos de asma¿, e que ¿não há estudos randomizados e controlados mostrando relação causal entre paracetamol e asma¿.

* Com agências internacionais