Título: Eleitoreiro ou politicamente correto?
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 18/08/2010, O Mundo, p. 36

Crítica do ministro de Direitos Humanos a Ahmadinejad divide opiniões

BRASÍLIA. O líder do PSDB na Câmara, João Almeida (BA), classificou de eleitoreira a declaração do ministro da Secretaria de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, que chamara de ditador o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, ao defender a vinda da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani para o Brasil. Vannuchi é um dos ministros mais próximos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, para Almeida, a declaração só foi feita porque o país está em pleno processo eleitoral.

- Essa frase é eleitoreira. Eles protegem o Ahmadinejad, apoiam o Ahmadinejad e agora, nas eleições, saem em defesa da Sakineh. Quantas vezes o Lula escrachou o Sarney e mudou de ideia? Eles (governo) mudam de opinião de acordo com o interesse do momento - assegurou o deputado.

Almeida também criticou a decisão de Lula de oferecer asilo à mulher, chamando-a de "uma tentativa de tirar proveito da situação após o desgaste sofrido com o apoio ao programa nuclear do Irã". Ele acredita que Vannuchi não sofrerá qualquer punição por atacar um líder com quem o presidente tem boas relações.

- É mais um lance eleitoreiro, como eleitoreiro foi o Lula se meter nessa questão - disparou.

Já o líder do PSC, Hugo Leal (RJ), da base governista, defendeu Vannuchi. Para ele, o ministro de fato fez um contraponto à aproximação do governo brasileiro a Ahmadinejad. Mas as críticas não terão peso no cenário internacional - já que se trata da pasta dos Direitos Humanos e não do Itamaraty.

- É uma declaração politicamente correta. Quem falou foi o ministro da Secretaria de Direitos Humanos. Se fosse o ministro das Relações Exteriores a repercussão seria outra. Qual o efeito internacional disso? Muito pouco - minimizou Leal.

Tentando acabar com qualquer vestígio de polêmica entre Brasília e Teerã, o Itamaraty preferiu ontem não reagir à crítica feita por Vannuchi. A acusação, no entanto, não surpreendeu a diplomacia brasileira.

- Sendo o ministro de Direitos Humanos, não poderia adotar um discurso conciliatório como o nosso - limitou-se a dizer um alto funcionário.