Título: Na TV, Dilma e Zé à sombra de Lula
Autor: Menezes, Maiá; Marqueiro, Paulo
Fonte: O Globo, 18/08/2010, O País, p. 3

No programa do PT da noite, presidente aparece tanto quanto sua candidata, e até no Alvorada

Na estreia do horário eleitoral gratuito ontem, os programas do PT e do PSDB na TV apelaram para a emoção e procuraram humanizar os candidatos à Presidência Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), que apareceram à sombra do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tanto Dilma quanto Serra invocaram Lula. O tucano encerrou o programa da tarde com um samba que dizia: "Quando Lula da Silva sair, é o Zé que eu quero lá", e a imagem de Serra numa favela cenográfica. Já os de Dilma foram tomados por imagens de Lula - que a apresentou como "mãe do PAC" e "primeira mulher presidente do Brasil".

Os programas tentaram tornar os candidatos, ambos marcados pelo perfil técnico, mais carismáticos, para desconstruir a imagem de um Serra sisudo e de uma Dilma durona.

Dilma e Lula fizeram uma dobradinha, ao apresentarem o programa da noite em Rondônia (ele) e no Chuí (ela). Numa das externas, Lula aparece no Palácio da Alvorada, uma instalação pública. A propaganda fez um paralelo entre as trajetórias de Lula e Dilma. O presidente dominou praticamente todo o programa da noite do PT.

A propaganda de Dilma tentou neutralizar uma das possíveis munições dos adversários. Apesar de ser um dado importante da biografia da petista, a participação na luta armada - ela integrou a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-Palmares) - foi omitida do programa, que procurou apresentá-la como uma mulher que lutou contra a ditadura e contribuiu para a redemocratização. O locutor disse que Dilma foi presa em 1970, mas não explicou o por quê. Dilma resumiu assim seu engajamento na luta contra a ditadura:

- Eu cheguei (ao Colégio Estadual de Belo Horizonte) no mês do golpe que deu origem à ditadura militar. Era uma efervescência. Me senti um peixe dentro d"água.

Cachorro de Dirceu volta na televisão

Com roupas de ginástica, Dilma apareceu no programa brincando com um cachorro, herança de José Dirceu, deputado cassado e ex-ministro da Casa Civil. O labrador Nego era cão de estimação de Dirceu. Dilma o adotou quando assumiu a pasta.

Vestida de branco, mesma cor usada por Lula, a petista se emocionou ao falar do amor pela filha, Paula Rousseff Araújo. Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, também deu depoimento. Lula ocupou grande parte do segundo programa apontando a aliada como responsável pelo sucesso do governo.

O programa tucano destacou a origem humilde de Serra:

- Venho de família modesta, estudei em escola pública, sempre batalhei muito - disse Serra, apresentado em seguida pelo locutor como "filho de família pobre, estudou em escola pública".

O programa de Dilma também flertou com as camadas populares. Ao falar da infância, ela lembrou o dia em que um menino lhe pediu dinheiro. Ela disse que pegou uma nota, rasgou em duas e deu metade para o menino: "Minha mãe disse que era uma burrice", recordou.

Serra não fez ataques a Lula, criticando de leve a atuação do atual governo:

- O Brasil avançou bastante em algumas áreas, mas está devendo em outras, como saúde, educação, transporte, a questão das drogas, do crack.

Ao longo do programa, Serra destacou os números de suas realizações como deputado, senador, governador e ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso, que não foi citado no programa, mas apareceu numa foto ao lado de Serra quando este era ministro do Planejamento. O tucano disse que ajudou a implantar o Real, falou da implantação dos genéricos, do bem-sucedido programa de Aids, e da construção e reforma de 300 hospitais. Disse ainda que fez mais de 700 mil cirurgias de catarata e multiplicou por nove o número de equipes de saúde da família. Voltou a dizer que criou o Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Como governador, disse ter dobrado o número de vagas do ensino técnico.

Em tom emocionado, Serra conversou com Alex Gomes Alves, que até os 10 anos mal sabia falar. O locutor informou que foi graças a projetos de Serra como ministro da Saúde que Alex pôde estudar na Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) de Capim Branco, em Minas Gerais. Ao fim do programa, Serra cita a história de Alex:

- Histórias como a de Alex dão o gás que a gente precisa.

Serra conversou com dona Maria de Lourdes, no Maranhão, que fez cirurgia de catarata. Ao perceber que ela estava prestes a chorar, Serra também se emocionou. Iniciado ao som de uma paródia de "Bate coração", na voz de Elba Ramalho, o programa terminou com um outro jingle, um sambinha que cita Lula e se refere ao candidato como Zé: "Para o Brasil seguir em frente, sai o Silva e entra o Zé".

O programa de Marina Silva (PV) enfatizou as consequências das mudanças climáticas e defendeu o desenvolvimento sem agressão ao meio ambiente. Marina fez aparição relâmpago em que se apresentou como candidata. Já o programa de Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) o apontou como formulador das políticas agrárias do PT.