Título: Lula compara situação de Serra à sua de 94
Autor: Lins, Letícia; Melo, Jamildo
Fonte: O Globo, 18/08/2010, O País, p. 14

PETROLINA e SALGUEIRO (PE) O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, está com dificuldade para achar um discurso. O presidente disse que a oposição terá de "procurar muitos argumentos para fazer críticas" contra sua administração.

- Já vivi isso. Quando tinha que fazer campanha contra o Plano Real, o povo votava no Real e eu me lasquei - lembrou ele, referindo-se à campanha de 1994. - Fazer campanha contra, em um momento econômico de estabilização e de satisfação popular, é muito difícil - analisou Lula, antes de uma entrevista coletiva a rádios do Nordeste, no aeroporto de Petrolina.

"Esse Brasil não é a Avenida Copacabana. É o sertão"

Demonstrando já ter certeza da eleição da petista Dilma Rousseff, e numa crítica indireta ao seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso, Lula disse que não irá para o exterior depois de deixar o cargo, mas que continuará viajando pelo país:

- Eu vou deixar o governo, mas vou continuar andando pelo Brasil. Quem pensa que eu vou deixar a Presidência e vou para Paris, vou para Harvard, vou não sei para onde... eu vou para o sertão, viajar o Brasil inteiro e ver o que eu fiz e o que eu não fiz. Se tiver alguma coisa errada, vou pegar o telefone e ligar para a minha presidenta: "olha, tem uma coisa errada, que eu não consegui fazer. Pode fazer, minha filha, porque eu não consegui".

O presidente disse que quem "quiser disputar o Brasil com ele" deveria viajar pelo país.

- Esse Brasil não é a Avenida Paulista. Não é a Avenida Copacabana. O Brasil é o sertão. E eu sei que isto incomoda - afirmou.

Lula reclamou da burocracia para a execução de obras, dando como exemplo o caso da ferrovia Transnordestina. Ele disse que fez 31 reuniões para decidir fazer a obra, porque os técnicos diziam que não havia viabilidade econômica:

- Agora, em fevereiro, depois de tudo acertado, um juiz não sei de onde nega uma desapropriação e para. Pense na quantidade de carrapato para criar problema. Um para fazer e um monte para não deixar fazer. O Brasil ficou assim: criou uma máquina de fiscalização poderosa e uma máquina de execução fragilizada.

Em Salgueiro, o presidente não citou o nome de Dilma, mas lembrou que o país precisa de um presidente que se assemelhe à "uma mãe que cuida dos seus filhos". Lula afirmou que quer "continuar governando esse país", ao participar das inaugurações de uma fábrica de dormentes para a Transnordestina e do campus do Instituto Federal do Sertão.

- Os governantes não perceberam que o doutor e o pesquisador vão para o laboratório pesquisar e inventar. Mas um presidente não tem que inventar, tem que fazer. Tem que cuidar do povo. Eu quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo, como uma mãe cuida dos seus filhos, cuida daqueles que mais necessitam, dos mais frágeis.

"Estamos fazendo como uma mãe faz", diz presidente

Lula voltou a enaltecer o papel de mãe ao lembrar que não está tirando uma obra de um estado para fazer em outro.

- Estamos fazendo como uma mãe faz. Na hora em que uma mãe senta com cinco bruguelos (crianças) e diz que é um bife para cada um, ninguém rouba do outro. Estamos distribuindo o bife em igualdade de condições para que todos tenham o direito de crescer.

* enviada especial