Título: Ciganos repatriados já falam em voltar para a França
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Fonte: O Globo, 20/08/2010, O Mundo, p. 39

Para críticos, ação do governo exacerba xenofobia

CIGANOS NO aeroporto de Lyon se preparam para viajar a Bucareste

PARIS. Começaram ontem as primeiras repatriações de ciganos de origem romena e búlgara feitas pelas autoridades francesas desde que o presidente Nicolas Sarkozy anunciou, no final de julho, uma grande ofensiva em seu país contra os integrantes em situação irregular dessa minoria. Um total de 93 ciganos eram esperados no aeroporto Aurel-Vlaicu, em Bucareste, provenientes de dois vôos vindos de Paris e Lyon. Apenas 75 chegaram ao destino final, já que 18 não compareceram ao aeroporto de Lyon, segundo autoridades. Eles fazem parte do grupo de 700 ciganos que o governo francês quer expulsar para a Romênia e a Bulgária até o fim do mês.

Desde 28 de julho, Sarkozy endureceu sua campanha contra os ciganos que vivem ilegalmente no país. O presidente anunciou que todos os acampamentos ilegais seriam esvaziados.

Ministro da Imigração diz que repatriação é voluntária

Diante dos olhares atentos da União Europeia (UE), da oposição e da imprensa nacional ¿ que alertam Sarkozy para o risco de recrudescimento da xenofobia no país ¿ o ministro da Imigração, Eric Besson, afirmou que as repatriações são voluntárias, e não estão ligadas aos recentes desmantelamentos de acampamentos ilegais.

Segundo o ministro, os voos de ontem eram o 25º e 26º do tipo para Romênia e Bulgária no ano. Só em 2009, foram 44 voos, levando 10 mil ciganos da França a seus países de origem. Ontem, por se tratar de uma partida voluntária, cada adulto receberia 300, mais 100 por criança, segundo o governo. Autoridades afirmaram que usarão um cadastro para impedir que as famílias se beneficiem duas vezes dessa ajuda.

¿ Estamos sob procedimento padrão de repatriação de irregulares ¿ disse um assessor de Besson.

Para Alexandre Le Cleve, da associação Rom Europe, as expulsões não fazem sentido, pois os ciganos poderão retornar quando quiserem à França. Cidadãos da Romênia e da Bulgária não precisam de visto para entrar nos países da UE, mas, depois de três meses, precisam trabalhar ou estudar para poder permanecer na França.

Adrian Paraipan, de 37 anos, que embarcou no vôo de Lyon com a família, disse que planejava voltar para a França.

¿ Em duas semanas eu volto ¿ disse, alegando ser impossível viver na Romênia.

Traian Basescu, presidente da Romênia, instou a UE a encontrar uma solução conjunta para a minoria. A ofensiva de Sarkozy contra os ciganos pode azedar as relações entre Paris e Bucareste.

¿ O que está ocorrendo é uma prova de que devemos ter um programa de integração europeia dos cidadãos ciganos, levando em conta que não devemos confundir assimilação com integração ¿ disse.