Título: Petróleo no subsolo é negociado no mundo a US$5 o barril, diz analista
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 21/08/2010, Economia, p. 36

O ÓLEO DA DISCÓRDIA: Para consultor, divergências entre preços "espanta"

Petrobras alega que são muitas as variáveis e interpretações técnicas

O preço do petróleo de reservas no subsolo é negociado na faixa de US$5 a US$6 por barril em qualquer parte do mundo. A informação foi dada ontem pelo especialista Sérgio Possato, presidente da consultoria Stratageo Soluções Tecnológicas. Segundo Possato, apesar de as empresas contratadas por Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP) para certificar as reservas do pré-sal terem usado premissas diferentes, não há explicação para a disparidade de preços: a DeGolyer, contratada pela Petrobras, teria chegado ao valor de US$5 a US$6 por barril, enquanto a Gaffney, contratada pela ANP, teria apresentado preço entre US$10 a US$12 o barril.

- Não entendo a diferença tão discrepante entre as duas empresas. Não conheço o trabalho da Gaffney, mas as duas deveriam chegar a números próximos, apesar de utilizarem variáveis e premissas diferentes. O que mais me espanta é a diferença tão discrepante, uma com valor do mercado e outra o dobro - destacou Possato.

Empresa ressalta que ambas avaliações serão analisadas

A Petrobras tentou justificar as divergências em nota, explicando que as avaliações envolvem muitas variáveis e interpretações técnicas com base em dados geológicos. "As avaliações independentes são apresentadas de forma preliminar devido ao grande número de variáveis envolvidas, que comportam interpretações técnicas diferentes decorrentes de aspectos geológicos, de engenharia de petróleo e econômicas que precisam ser discutidas por todos os técnicos envolvidos", disse a empresa em comunicado.

A companhia ressalta que o preço final do petróleo para a cessão onerosa, operação pela qual a União cederá à estatal cinco bilhões de barris das reservas do pré-sal como forma de capitalizá-la, terá como referência avaliações das duas classificadoras.

O ex-diretor-geral da ANP David Zylbersztajan, por sua vez, acredita ser possível as avaliações terem chegado a preços tão diferentes. Segundo ele, as companhias utilizam muitas premissas e muitas variáveis, algumas delas até subjetivas, que podem levar a conclusões bem distintas.

- As duas certificadoras podem estar certas, em função das premissas e critérios usados. Mas o fato de a conclusão de cada uma ter sido "ao gosto do freguês" indica que é muita futurologia e "chutologia" - afirmou Zylbersztajan.

Premissas são fornecidas pela contratante

Ele frisou ser natural que o resultado de um serviço desses acabem sendo favorável a seu contratante. Isso porque, entre outros fatores, o trabalho é feito com base em algumas premissas que são fornecidas pela empresa contratante. Alguns princípios que podem variar de empresa para empresa são o tempo de produção da reserva, quanto tempo levará para o desenvolvimento do campo e a logística que será usada para a sua exploração.

- Não dá para afirmar que uma avaliação está certa e a outra errada. Essa diferença é possível. Só que o edifício mais barato pode ruir, e o mais caro pode se tornar inviável de tão caro - disse Zylbersztajn.

A Petrobras tentou tranquilizar os acionistas minoritários afirmando que os termos finais do contrato da cessão onerosa serão "submetidos aos órgãos decisórios da companhia nos moldes do seu modelo de governança corporativa, incluindo o Comitê dos Minoritários, garantindo transparência e equidade a todos os acionista".