Título: Um dia de respiro para Sarney
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2009, Política, p. 3

Com Lula fechado em sua defesa e a ofensiva dos parlamentares petistas sobre a Primeira-Secretaria da Casa, presidente do Senado ganha tempo. Sarney ao chegar ao Congresso: tropa de choque formada por Lula em menos de 24 horas aliviou a crise no Senado, por enquanto

O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), chega a esta sexta-feira com a sua situação política uma oitava abaixo do tom da quarta-feira pela manhã, quando o PT se uniu à oposição pelo seu afastamento temporário, e ele recusou a solução intermediária e jogou no tudo ou nada. Esse respiro de Sarney foi fruto de uma combinação que incluiu desde as ameaças do PT ao DEM, a ofensiva sobre o tucano Arthur Virgílio, até a megaoperação de bastidores deflagrada ainda na quarta-feira pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Tal ação culminou ontem com os ministros políticos em campo para agregar apoios, enquanto Lula cuidaria pessoalmente da bancada petista, que tem um grupo de senadores, em especial, Tião Viana (AC), Marina Silva (AC) e Eduardo Suplicy (SP), fechados com o pedido de afastamento.

Um dos ministros que caiu em campo foi o do Trabalho, Carlos Lupi, que, a pedido de Lula, fez um apelo aos pedetistas para que poupassem o senador e ajudassem a reduzir a acidez da crise sobre Sarney. ¿Nós estamos com o presidente Lula. E Sarney é parte desse projeto¿, disse Lupi a senadores do partido que tem apenas um de seus integrantes disposto a defender Sarney.

No DEM, a ofensiva do PT sobre a Primeira-Secretaria surtiu efeito. Ontem, o atual primeiro secretário, senador Heráclito Fortes (DEM-PI), um aliado de Sarney dentro do partido, se referia às mazelas da Casa como fruto de uma omissão coletiva e que agora caberia aos 81 senadores se unirem para tentar mudar o Senado em vez de um acusar o outro. Estava quase na mesma melodia que Sarney entoou em seu discurso na semana passada.

Em conversas reservadas, alguns democratas chegaram a admitir que o partido errou ao pedir o afastamento de Sarney e que a hora deve ser de colocar panos quentes para evitar que o Senado caia num descontrole. Há um sentimento majoritário hoje na Casa de que a renúncia de Sarney poderia ser um tiro no pé de quem lhe abrir o cadafalso.

Os tucanos, por exemplo, sabem que o primeiro vice-presidente, Marconi Perillo (GO), teria apenas cinco dias de reinado(1) e logo haveria eleições para escolher o novo comandante do Senado, um jogo no qual o PMDB teria peso de ouro, já que é a maior bancada e hoje tende a ficar com o governo ¿ ou seja, não estaria descartada a eleição de um governista que, fortalecido pela novidade, tirasse do DEM o poder de reformar a administração da Casa. E é aí que o DEM pretende construir seu discurso em 2010.

O PT, por sua vez, balança entre fechar um discurso pelo afastamento de Sarney para agradar a chamada opinião pública, em especial, dos grandes centros, ou seguir com uma atitude mais pragmática em relação a Sarney para preservar a aliança de 2010. ¿Quem governa, quem está no comando, tem os bônus e tem os ônus. Agora nós temos esse ônus¿, afirmou o senador Delcídio Amaral (PT-MS), fazendo coro com Mercadante. Embora o PT ainda se mostrasse dividido, os demais partidos também estão e, no geral, a conta ainda é favorável, por ora, ao presidente do Senado.

1 SUBSTITUIÇÃO Na hipótese de renúncia do presidente do Senado, José Sarney, que ontem era considerada remota, a eleição do substituto deve ser feita num prazo de cinco dias, o primeiro-vice presidente, no caso o senador Marconi Perillo (PSDB-GO), tem um prazo de cinco dias para convocar nova eleição, segundo previsto no Regimento Interno da Casa. O novo presidente precisa ser eleito por maioria simples.