Título: Empresário moderno é socialista
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Fonte: O Globo, 21/08/2010, O País, p. 18

Ex-presidente da Fiesp e candidato do PSB ao governo paulista, Skaf diz que deseja fazer "algumas revoluções"

SÃO PAULO. Estreante na política e com apenas 2% das intenções de voto, segundo as pesquisas, Paulo Skaf, de 55 anos, afirma que a sua candidatura ao governo de São Paulo pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB) não é uma aventura. Presidente licenciado da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), diz, ao explicar a escolha da legenda, que não há "ninguém mais socialista do que um empresário moderno".

Skaf fala em fazer uma "revolução" na saúde e elege, como principal bandeira da sua campanha, a implantação nas escolas públicas paulistas do projeto educacional oferecido pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), que faz parte do sistema Fiesp. Durante a sabatina realizada ontem pelo GLOBO, o candidato, entre vários copos de água, falou também sobre o orgulho de ter liderado a campanha pelo fim da CPMF e criticou a gestão da saúde pública. Leia os principais trechos da entrevista:

O GLOBO: Outros empresários já tentaram se eleger governador de São Paulo, como Antonio Ermírio de Moraes, e não foram bem sucedidos. É uma aventura sua candidatura ou foi bem amadurecida?

PAULO SKAF: No caso do companheiro Antonio Ermírio, estamos nos reportando há 24 anos. Era uma outra época e não havia segundo turno. Diria que não se trata de aventura. Trata-se de haver uma contribuição maior por parte do empresariado para o estado e para o país.

O GLOBO:O senhor tem afinidade ideológica com o PSB?

SKAF: Socialismo moderno é o socialismo de dar oportunidades iguais às pessoas, de construir uma nova sociedade por meio da educação, e nisso eu acredito. Fiz isso como presidente do Sesi e do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial). Implantei no Sesi o ensino fundamental em tempo integral.

O GLOBO:O senhor se define como socialista moderno?

SKAF: Não há ninguém mais socialista do que um empresário moderno.

O GLOBO:Pretende levar para o sistema público a experiência do Sesi na educação?

SKAF: Pretendo. A educação é o futuro. Lamentavelmente, as escolas públicas do estado estão plantando problemas para o futuro, porque as crianças não estão aprendendo. E o que é pior: passam de ano por causa do sistema de progressão continuada.

O GLOBO: A progressão continuada acaba na sua gestão?

SKAF: Acaba. Não tem a menor dúvida. Acabei no Sesi e não houve evasão escolar. Implantei o ensino integral no Sesi de forma responsável. No estado, vou fazer o mesmo. Pretendo ainda oferecer aos jovens a possibilidade do ensino médio com cursos técnicos. Vejo que essas questões são muito faladas pelos outros candidatos. Fico feliz porque há reconhecimento de que aquilo que proponho realmente é bom.

O GLOBO: Acha que foi o seu discurso que fez os adversários adotarem essas bandeiras?

SKAF: Não acho que foi o discurso. Foi o que fiz. Discursos são os deles. Não adianta colocar a criança na escola o dia inteiro sem programação. Hoje, 40% das escolas que tinham ensino integral deixaram de ter.

O GLOBO: O senhor já comparou o custo de um aluno da rede estadual e do Sesi?

SKAF: Um aluno do ensino fundamental custa R$2,5 mil por ano e do Sesi também é mais ou menos isso. Já um aluno de medicina da USP custa de R$50 a 60 mi. Abri essa discussão, mas não no sentido de privatizar, de cobrar. Se o estado investe no aluno de medicina, por que no final não pode haver um ressarcimento? Esse aluno se forma, vai ter um consultório, mas a poucos metros tem um posto de saúde sem médico. Ele poderia fazer algo para ajudar.

O GLOBO: O senhor lutou contra a CPMF e o presidente Lula tem dito que quem lutou contra o tributo prejudicou a saúde. O senhor se sente responsável pela situação da saúde?

SKAF: Liderei, com muito orgulho, o movimento nacional contra a CPMF. Foi uma conquista. Ficaram mais de R$40 bilhões no bolso da sociedade. A saúde tem um grave problema de gestão.

O GLOBO: Qual a sua proposta para a saúde em São Paulo?

SKAF: Estamos precisando promover algumas revoluções em algumas áreas de São Paulo, e uma delas é a saúde. Vamos criar um sistema para ajudar as prefeituras no atendimento primário nos postos de saúde. No caso dos exames, vamos utilizar todos os equipamentos instalados. Existe ociosidade.Vamos recadastrar a fila de exames.

O GLOBO: Como fazer de São Paulo um estado menos violento?

SKAF: As polícias Civil e a Militar têm 130 mil homens. Falar que não há recursos, pessoal e equipamentos eu não posso concordar. Vamos implantar, primeiro, um serviço de inteligência de informações unificado das duas polícias. Não adianta haver competição entre elas. Pagarmos aqui salários menores do que muitos estados do Brasil não é correto. Vamos criar uma tropa especial e não vamos deixar, como hoje, escancarada nossas divisas para drogas e armas. Não tenho vocação para governador chorão, que fica dizendo que é problema do governo federal, da prefeitura, do Congresso.

O GLOBO: Ano passado, a Fiesp contratou o publicitário Duda Mendonça para a comunicação. O senhor também apareceu em propagandas de entidades do sistema Fiesp. Não houve uso político-eleitoral das entidades?

SKAF: Da forma que você coloca parece, mas não foi assim. Primeiro, o Duda Mendonça foi contratado por 90 dias para um trabalho de consultoria em nosso site, revista e nas nossas campanhas publicitárias. Pesquisas mostravam que as pessoas pensavam que Sesi e Senai eram coisas do governo. Havia uma reivindicação por parte da indústria para mostrar o que fazemos pela sociedade. Quando abrimos a concorrência para contratar uma agência de publicidade, em 2006, não havia candidatura, filiação minha, nada. Foi a agência que sugeriu que eu aparecesse nas propagandas para dar mais credibilidade.

O GLOBO: Qual a sua relação com o presidente Lula?

SKAF: Em 2002, um dos poucos empresários que o apoiaram fui eu. Creio que, da mesma forma, em 2004, na minha eleição na Fiesp, ele torceu por mim. Hoje, o meu relacionamento com ele continua muito bom. Teve o episódio da CPMF, mas o presidente Lula é inteligente, tem experiência de vida e entendeu que aquela foi uma forma corajosa de enfrentar a situação.

O GLOBO: Por esse relacionamento e pelo fato de o PSB estar com o PT na disputa presidencial, a tendência é que apoie Aloizio Mercadante, se o senhor não for ao segundo turno?

SKAF: Hoje estou interessado em discutir quem vai me apoiar no segundo turno. Quando entro numa batalha, entro com crença e fé absoluta na vitória.

O GLOBO: Com 2% nas pesquisas, acredita que possa ir ao segundo turno?

SKAF: Tenho fé absoluta. A campanha começou nesta semana com a televisão e o rádio (o horário eleitoral). As pessoas começaram a se ligar na questão eleitoral agora. Sou realmente a única opção nova, porque todos os demais são políticos que, ou já tiveram 14 anos no governo, ou estão, como parlamentares, há décadas na vida política.

O GLOBO: O senhor é conhecido pelo discurso combativo em relação à carga tributária. Vai reduzir impostos?

SKAF: Em alguns casos, o sistema de substituição tributária que foi implantado em São Paulo levou a uma bagunça e aumento de carga tributária. Pretendo fazer uma revisão e, naqueles setores que tecnicamente são inadequados para isso, será modificado. Defendo a isenção de imposto para itens da cesta básica.

O GLOBO: Existe alguma fórmula que permita reduzir o valor dos pedágios e manter a qualidade das rodovias?

SKAF:Vamos compensar o valor do pedágio no IPVA.

O GLOBO: Como garantir que São Paulo habilite um estádio para a abertura da Copa?

SKAF:: Como governador, faremos tudo que for necessário. É a oportunidade para colocar São Paulo na vitrine do mundo. Acho que o local mais preparado é o Morumbi.

Participaram da sabatina: Germano Oliveira, Gilberto Scofield Jr., João Sorima Neto, Marcelle Ribeiro, Sérgio Roxo e Silvia Amorim