Título: Um futuro com conteúdo
Autor: Damasceno, Natanael; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 21/08/2010, O País, p. 17

Especialista contesta previsões sobre o fim dos jornais e vê resposta além da tecnologia

O¿ REILLY: defesa da cobrança de conteúdo

José Meirelles Passos

Ansiosas em ter uma presença cada dia maior na internet, com aplicativos em várias plataformas digitais, as empresas jornalísticas vêm se descuidando de valorizar aquilo que elas têm de melhor: o conteúdo noticioso. Tal falha está mais do que clara no fato de que os jornais ainda não se preocuparam, coletivamente, em confrontar as ferramentas de buscas, como Google e Yahoo, em defesa dos direitos autorais. Esse foi o diagnóstico apresentado ontem, no 8º Congresso Nacional de Jornais, pelo irlandês Gavin O¿Reilly, que preside a Associação Mundial de Jornais e Editores de Notícias. Ele afirmou que os diretores e executivos de jornais devem culpar a si mesmos pela crise tanto financeira quanto, de certa forma, de identidade:

¿ Temos que começar a aceitar que nosso conteúdo realmente vale alguma coisa e refletir sobre o fato de que fornecer notícias gratuitamente nos custa muito.

O¿Reilly foi a figura central do último painel do congresso de dois dias, promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ). Ele disse que o setor tem tolerado em demasia os comentaristas ¿pontificando a morte dos jornais¿, em vez de se unir para utilizar (simultaneamente às ações legais) a tecnologia capaz de coibir o uso indiscriminado de seu conteúdo por terceiros.

¿ Para mim, o futuro da publicação de notícias não depende necessariamente das últimas novidades tecnológicas, como o iPad ou o Kindle. Na verdade, se baseia naquilo em que sempre nos baseamos: o conteúdo de nossos produtos ¿ disse.

O¿Reilly criticou as empresas que utilizam gratuitamente as notícias dos jornais, lembrando que o Google se tornou a maior companhia de mídia, valendo hoje US$190 bilhões. Rodrigo Velloso, diretor de desenvolvimento de novos negócios do Google para a América Latina, que fazia parte do painel, procurou esquivar-se:

¿ A demonização do Google está na moda. Mas estamos abertos à discussão sobre como poderíamos trabalhar juntos com as empresas jornalísticas.