Título: Progresso sobre mar de esgoto
Autor: Galdo, Rafael; Victor, Duilo; Ribeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 21/08/2010, O País, p. 4

Em oito anos, desde quando O GLOBO usou pela primeira vez o exemplo da Rua José Carlos da Silva, na Favela de Rio das Pedras, na Zona Oeste, para ilustrar as estatísticas de saneamento básico, a vida ali teve drásticas mudanças, mas o tempo fez pouca diferença para o esgoto sem tratamento, que continua a desaguar na Lagoa da Tijuca.

No endereço, os casebres de madeira deram lugar a construções de três, quatro andares. Em algumas moradias, já é possível ver TVs com tela grande e antenas para canais de assinatura. A rede de serviços que existe na favela inclui restaurantes e salões de beleza. O entregador de compras João Carlos da Silva Barbosa, de 27 anos, mora desde que nasceu na mesma rua. Ele conta que a maior parte das mudanças feitas na rede coletora é obra dos próprios moradores:

¿ Na minha casa tem um cano que leva o esgoto direto para o valão. Os moradores é que colocaram as manilhas e aterraram a rua. Quando há vazamento na rua, os caminhões de entrega passam e molham as pessoas com água suja.

No início da rua onde mora o entregador, há um vazamento de esgoto que forma um lamaçal mesmo em dia sem chuva. Crianças e adultos não se intimidam em pisar na lama.

¿ Quando chove, o esgoto volta e entra nas casas. Tudo fica cheio de água. Por baixo do chão, o solo é um pântano ¿ continua João Carlos.

As constantes inundações de esgoto ocorrem, explicam os moradores, por causa do efeito de maré do complexo lagunar da região. Quando há chuva forte e o nível da lagoa sobe, a rede improvisada de coleta de esgoto não consegue dar vazão.