Título: Serviço será feito onde risco é maior
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 23/08/2010, Rio, p. 16

Especialistas criticam estratégia, porque ovos do "Aedes" não são eliminados

Nas reuniões onde a volta do fumacê vem sendo discutida, já ficou decidido que nem todos os locais receberão o serviço.

As áreas serão escolhidas de acordo com uma equação que levará em conta a quantidade de casos de dengue, o índice de infestação pelo mosquito transmissor da doença e a densidade populacional. Somente os locais com risco médio e alto terão o fumacê, que será empregado de duas formas: por bombeiros e agentes de saúde com equipamento individual, nas costas, e por carros. O Ministério da Saúde já prometeu realocar para o município do Rio 14 veículos para pulverizar o inseticida no ar. Kits costais, como são chamados os equipamentos individuais, já estão sendo comprados pelo estado e por alguns municípios.

O levantamento das áreas que vão contar com o fumacê deve estar pronto na semana que vem. No município do Rio, há alguns pontos da Zona Oeste, do Centro e da Zona Sul que serão contemplados, mas a principal região é a da Leopoldina.

O inseticida que será empregado é do grupo dos organofosforados.

Na última epidemia, em 2008, foi usado nas áreas mais afetadas o piretroide.

Desta vez, será mudado o produto, para não causar resistência nos mosquitos.

Especialistas consultados pelo GLOBO criticaram a estratégia de intensificar o uso do fumacê. O epidemiologista Edmilson Migowski não conteve o espanto ao ser informado sobre o assunto: Fumacê em setembro? Você está brincando? Não tem o menor sentido.

Segundo ele, o fumacê é nocivo ao meio ambiente e não é eficaz, uma vez que mata apenas os mosquitos adultos.

Os ovos continuam lá. Você passa o fumacê e dez dias depois já tem uma nova população de mosquitos. É preciso combater os focos, isso sim defende.

Segundo ele, o inseticida pode até matar o mosquito da dengue, mais ataca também mariposas e borboletas, entre outros insetos.

Em Cuba, onde usaram muito fumacê para acabar com o Aedes, não há mais borboleta.

Técnicos que trabalham na volta do fumacê até admitem que o inseticida só deve ser usado em último caso. No entanto, argumentam que não há estudos comprovando que outras espécies são afetadas pelo inseticida.

A gente trabalha com riscobenefício. Entre vidas humanas e a borboleta, como não há estudos mostrando que elas são afetadas, vamos tender para o uso do produto disse um técnico.