Título: Fumacê deve voltar a circular em setembro
Autor: Alves, Maria Elisa
Fonte: O Globo, 23/08/2010, Rio, p. 16

Aumento do número de casos de dengue e índice de infestação pelo mosquito no estado preocupam autoridades

Uma polêmica vai pairar no ar a partir de setembro. Para evitar uma explosão de casos de dengue no verão, o Rio deverá ressuscitar o fumacê, que há cerca de 15 anos só é empregado em casos de epidemia da doença. O serviço como estratégia de combate ao mosquito Aedes aegypti depende apenas da divulgação de uma nota técnica do Ministério da Saúde, que está sendo elaborada e vai, além de justificar a necessidade do fumacê, nortear a forma como ele será utilizado.

Uma série de fatores levou à decisão de retomar a medida.

O aumento do número de casos da doença foi um deles: de janeiro a julho deste ano, foram registradas 22.600 vítimas da dengue, mais do que em todo o ano de 2009, quando 12.320 tiveram diagnosticada a doença. O número de óbitos também cresceu numa proporção preocupante: até julho, foram confirmadas 33 mortes, contra as 14 de todo o ano passado.

Levantamento: 46% dos municípios em alerta Além disso, pelo último Levantamento Rápido do Índice de Infestação do Aedes Aegypti (LIRAa), feito em maio, a situação do estado é preocupante.

Dos 67 municípios que fizeram a pesquisa (73% do total do estado), 46% estão em estado de alerta para a ocorrência de surto ou epidemia de dengue. Eles apresentaram índice entre 1% e 3,9%, quando o tolerável, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), é de até 1%. Quarenta e oito por cento das cidades ficaram abaixo de 1%, o que significa baixo risco de surto.

Mas 6% das cidades que fizeram o LIRAa estão com altíssimo risco. São João da Barra, por exemplo, está com 9,8%; Italva, com 8,5%; Tanguá, com 4,6%; e Carapebus, com 4,5%.

A situação do município do Rio é menos grave em relação a outros, mas há áreas com altíssimo risco de surto. Pelo último LIRAa, divulgado na sextafeira passada, a cidade está com média de 1,6% de infestação.

Mas determinados bairros têm até dez vezes mais do que o índice tolerável. É o caso do Humaitá, na Zona Sul, com 10,7%. De classe média, a região encabeça o ranking da quantidade de Aedes aegypti, seguida pelo Complexo do Alemão, com 10,1%.

Como se não bastasse a quantidade de mosquitos batendo as asas no Rio, autoridades temem uma epidemia sem precedentes porque o vírus 1 da dengue, que não fazia vítimas no estado há mais de 20 anos, voltou a circular. Isso quer dizer que todos os jovens nascidos de 1987 para cá estão vulneráveis.

Outras faixas etárias também podem ser atingidas, já que, na epidemia de 1987, a quantidade de vítimas não foi tão alta quanto nas seguintes.

Em outros estados, o vírus 1, apesar de ser considerado menos agressivo, tem provocado casos graves da doença. Além disso, já foram confirmados em Roraima casos do vírus 4 da dengue, que não existia no Brasil. Se ele chegar ao Rio não é possível prever se isso vai acontecer, nem quando , encontrará toda a população vulnerável.