Título: CPI da Exploração Sexual: casos sem punições
Autor: Weber, Demétrio; Marques, Sérgio
Fonte: O Globo, 23/08/2010, O País, p. 12

Processo mais rumoroso envolve o governador do Amazonas

MANAUS. Seis anos após o encerramento da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Exploração Sexual, três casos rumorosos investigados pelo Congresso em 2004 ainda não foram julgados, terminaram em absolvição ou acabaram descartados pelo Ministério Público. O de maior destaque envolve a suspeita de que o governador do Amazonas e candidato à reeleição, Omar Aziz (PMN), tenha feito programa com uma jovem de 15 anos, em 2003, quando era vicegovernador. Ele nega.

A acusação contra Aziz, vicegovernador na época do escândalo, tem origem num inquérito da Polícia Civil sobre a atuação de duas cafetinas, em Manaus.

Em depoimento à polícia, a garota disse que tivera um encontro com um homem chamado Omar. O caso virou um escândalo político, mas na Justiça não foi longe. Em 2005, o MP descartou a participação de Aziz sem sequer interrogá-lo. E a investigação prosseguiu com foco em outros personagens.

O promotor João Lúcio de Almeida Ferreira excluiu Aziz da investigação com base somente em depoimento da jovem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Assembleia Legislativa do Amazonas. Na ocasião, ela voltou atrás e desmentiu o que sugerira no depoimento à polícia, à CPI do Congresso e em entrevista à revista Época na qual narrou detalhes do encontro, afirmando que se tratava do então vice-governador.

A CPI estadual foi criada em 2004, a pedido de Aziz, depois que o caso veio a público no Congresso em Brasília. Duas fotos do vice-governador foram mostradas à garota. Ela negou que fosse ele o homem de quem recebera R$ 150 para fazer um programa no segundo andar de uma loja de material de construção, em Manaus o imóvel pertencia a um irmão de Aziz.

Mãe confirma entrevista da jovem a revista A CPI não ouviu o vice-governador, o irmão e nem a delegada que investigou o caso. Para o promotor, porém, bastou: Afastada está a noticiada suspeita de participação do vice-governador Omar Aziz no delito, escreveu João Lúcio. À CPI, a garota negou até que tivesse concedido a entrevista à Época. Porém, posteriormente, a adolescente admitiu ter mentido sobre isso. Interrogada pela Polícia Federal, numa investigação sobre eventual tentativa de extorsão contra Aziz, na eleição de 2008, ela confirmou a entrevista.

Ela disse que deu a entrevista num shopping, no Rio Grande do Sul. Mas que a mãe não tinha autorizado, por ela ser menor. Para mim, é um fato superado diz Lino Chíxaro, advogado de Aziz.

Hoje a jovem, maior de idade, é casada e tem filhos. O GLOBO entrou em contato com a mãe dela, que não quis dar entrevista.

Mas, indagada sobre os desmentidos à CPI, ela disse que apenas a filha pode esclarecer o fato. Confirmou a entrevista à Época e acrescentou: Nós não nos vendemos.

O nome de Aziz acabou retirado do relatório final da CPI do Congresso, em votação apertada: 8 a 7. A mobilização em favor do então vice-governador foi liderada pelo senador amazonense Arthur Virgílio Neto (PSDB). O inquérito no qual Aziz era citado teve continuidade.

Uma das investigadas foi Darcley Cristina Dias Macedo, apontada pela CPI como cafetina que prestaria serviços a políticos e empresários do Amazonas.

Ela nega. O processo com o inquérito desapareceu do Fórum Enoch Reis, em Manaus.

O último movimento registrado é de 2008. Não está claro se houve denúncia do MP.

A denúncia contra Aziz virou assunto na atual campanha, como já ocorrera em 2008, quando disputou e perdeu a prefeitura.

Cartazes apócrifos chamam o governador de pedófilo.