Título: Especialistas criticam interferência no Ipea
Autor: Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 24/08/2010, O País, p. 13

Economistas apontam desvio de finalidades em instituição e defendem sua volta a pesquisas de maior peso

BRASÍLIA. Os atuais desvios de finalidade e a interferência política no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) comprometem a imagem da instituição, que se manteve como organismo de Estado em todos os governos. A avaliação do economista Regis Bonelli, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV) que é pesquisador aposentado do Ipea reflete a opinião e o sentimento de outros pesquisadores, que preferem se manter no anonimato por temor a represálias.

O Ipea sempre foi um organismo de Estado. Os diferentes governos se beneficiaram ou não, mais ou menos dos estudos, mas nunca houve uma interferência tão declarada do governo afirma Bonelli.

Ele compara a trajetória do Ipea com a do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), lembrando que este último desfruta de credibilidade inquestionável porque foi mantido, independentemente dos governos, como uma instituição a serviço do Estado.

Pesquisas são um bem público, do Estado, não de governos destaca Bonelli.

Bonelli lembra que, nos 40 anos de serviços no Ipea, o organismo recebeu diferentes orientações, mas sempre foi preservado como instituição de Estado, até uma descontinuidade a partir de 2007. O pesquisador defende o corpo técnico e lembra que muitos dos trabalhos produzidos são de qualidade: Se for olhar os textos, discussões, tem muita coisa boa, que não é para servir ao governo, mas a imagem que está se consolidando é esta.

Para o economista Paulo Rabello de Castro, o Ipea precisa retornar às pesquisas de fôlego que deixou de fazer: análises sobre emprego, distribuição de renda, competitividade da economia, relaciona. Rabello considera que caberia ao Instituto fazer um estudo aprofundado sobre a produtividade de segmento e ações do setor público, assim como uma análise efetiva e aprofundada da conjuntura internacional, que pode surpreender o governo, na sua visão.

A produção atual é rala e superficial. Raramente alguma coisa impressiona afirma.

A oposição criticou o uso políticopartidário do Ipea. O deputado Walter Feldman (SP), em nota no Diário Tucano, lamentou que uma instituição tão nobre esteja sendo utilizada pelo PT dessa forma equivocada. É algo que mostra como o Estado se transformou em máquina política e partidária do PT. É uma demonstração de que nada sobreviveu, uma espécie de quase terra arrasada, afirmou.