Título: Petrobras: governo pode contratar nova empresa para fixar preço do barril
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 24/08/2010, Economia, p. 24
Diante de impasse sobre cotações, capitalização corre o risco de ser adiada Gerson Camarotti, Maria Lima e Wagner Gomes
BRASÍLIA e SÃO PAULO. O governo já tem um plano B para a capitalização da Petrobras. Se não houver consenso sobre o preço do barril as cotações variam de US$ 5 a US$ 12, dependendo da certificadora , a alternativa será contratar uma terceira empresa internacional para apresentar uma nova proposta. Além disso, o governo não descarta arcar com o ônus político e adiar a operação, marcada para o dia 30 de setembro.
O objetivo final é evitar questionamentos jurídicos em torno da capitalização, sejam eles do Ministério Público Federal, sejam de acionistas minoritários da estatal.
O Palácio do Planalto foi advertido tanto pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) quanto pela Petrobras de que forçar uma solução neste momento poderia ter um efeito pior. A pressão pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é para que essa solução intermediária seja definida imediatamente. Isso evitaria o adiamento do leilão. Mas está complicado chegar a esse consenso.
E, dentro do governo, já há uma advertência de que Lula deveria ter um papel mais discreto nesse episódio para evitar ser acusado depois de ingerência.
Para alguns interlocutores, seria melhor arcar com este custo político do que forçar uma saída emergencial.
Zimmermann: governo quer manter cronograma A solução intermediária, neste caso, seria chegar a uma cotação na casa de US$ 8 para o preço unitário dos até cinco bilhões de barris que serão repassados pela União à Petrobras, dentro do sistema chamado de cessão onerosa (mediante pagamento).
O problema que emperra as conversas é que a certificadora contratada pela Petrobras teria chegado a uma cotação entre US$ 5 e US$ 6 para os barris a serem cedidos, ao passo que aquela selecionada pela ANP que representa os interesses da União teria achado como cotação de referência entre US$ 10 e US$ 12.
Cada US$ 1 de diferença vale até US$ 5 bilhões.
O preço do barril é essencial porque vai definir de quanto será o aporte do Tesouro Nacional, controlador da estatal, no aumento de capital da Petrobras; e o tamanho do desembolso dos demais acionistas (BNDESPar, minoritários em geral e cotistas dos fundos FGTS-Petrobras).
O ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse ontem em São Paulo que os estudos para o preço final do barril da cessão onerosa à Petrobrás devem ser concluídos até o fim desta semana. O ministro, no entanto, não quis comentar se o preço final ficará mais próximo dos US$ 5 ou dos US$ 10, valores que circulam no mercado.
Qualquer comentário antes da conclusão dos estudos só vai gerar especulação afirmou Zimmermann, logo depois de participar de evento promovido pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib).
O ministro disse que a intenção do governo é realizar até o fim de setembro a capitalização da Petrobras.
O que está se tentando é manter o cronograma. A ideia de todos é não alterar isso disse Zimmermann.
O ministro afirmou ainda que o governo não deve realizar nenhum leilão para concessão de áreas de petróleo e gás este ano. Isso porque o projeto do marco regulatório do pré-sal ainda não foi aprovado no Congresso Nacional, o que deve acontecer somente depois das eleições.