Título: Na TV, programa de Serra usa Dirceu para atacar Dilma
Autor: Jungblut, Cristiane; Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 25/08/2010, O País, p. 4

Em trecho não assinado do programa, campanha eleva tom contra petista

Cristiane Jungblut, Maiá Menezes e Silvia Amorim

RIO, BRASÍLIA e SÃO PAULO. O ataque mais direto até aqui feito pela campanha tucana à petista Dilma Rousseff foi reservado para os últimos 20 segundos dos dois programas eleitorais do candidato José Serra exibidos ontem. Depois que o crédito "Serra, 45" aparece, um locutor aprofunda as críticas a Dilma: diante de imagens de jornais e revistas, ele diz: "A Dilma tá se achando. A eleição nem começou e já tem briga dela com Lula. O povo nem votou e ela já está escolhendo ministros. E olha quem tá querendo voltar: Zé Dirceu, o mesmo do mensalão e Palocci. O Brasil não merece isso". As imagens são exibidas sem referência ao partido ou à coligação de Serra.

PT analisa se entra com ação por "trucagem"

A estratégia mais agressiva foi bem recebida pelos tucanos. Na semana passada, a maior parte deles reclamou do marqueteiro Luiz Gonzalez pelo tom ameno do programa e, principalmente, pela tentativa de aproximar Serra do presidente Lula. Apesar dos ataques, o plano é deixar as críticas mais contundentes distantes da boca do candidato. A campanha tucana tem outros filmetes prontos com assuntos incômodos ao adversário, entre eles um que aborda a ligação do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Se serão usados, é uma decisão ainda não tomada.

A assessoria jurídica do PT analisa se vai entrar com uma representação junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra os ataques. Segundo assessores, a ação não seria contra os ataques, e sim pela manobra de o tucano usar "trucagem", ou seja, não mostrar a autoria dos ataques. A avaliação é que a lei eleitoral exige que as propagandas tenham autoria clara. O PT tem até 48 horas após o fato para ingressar na Justiça.

Para políticos petistas, esse artifício é fruto de desespero. O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP), disse que Serra está adotando a "tática do tudo ou nada" e erra ao explorar o escândalo do mensalão. Segundo Vaccarezza, em 2006 o então candidato tucano, Geraldo Alckmin, perdeu votos no segundo turno ao abordar o tema. Para ele, a exploração do fato já era esperada:

- Agora, o Serra pirou de vez. Antes ele até botou o Lula no programa. Ele está na tática do time que está perdendo, do tudo ou nada.

Na mesma linha, o secretário de Comunicação, André Vargas (PT-PR), disse que as denúncias são antigas. Ele evitou comentar a situação do ex-ministro José Dirceu - que foi cassado depois das denúncias do mensalão -, mas disse que o PT quer sim que o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci integre um eventual governo de Dilma.

Antes do ataque mais claro, os programas de Serra exibidos ontem à tarde e à noite exibiram depoimentos de eleitores afirmando que a diferença entre Serra e Dilma é que a petista não tem experiência.

Sem citações ao presidente Lula ou ao "Zé", usado nas primeiras propagandas, o programa da manhã foi aberto com uma apresentação de Serra. O narrador recontou a história de Serra na luta contra a ditadura:

- Foi pra rua lutar contra a ditadura. Perseguido, Serra teve que deixar o país. Lá fora, retomou os estudos e se formou em economia. Na volta, era professor universitário.

Serra disse que, como governador de São Paulo, dobrou o número de Faculdades de Tecnologia (Fatecs). Na verdade, quando ele entrou no governo, havia 26 Fatecs - o número chegou a 49. A meta de dobrar o número é para o final deste ano, segundo o governo de São Paulo.

Os programas de Dilma exibidos ontem foram abertos por Lula. No primeiro, ele aparece ainda como metalúrgico e, logo em seguida, ao lado da presidenciável, em um comício, na madrugada de anteontem, na porta de uma fábrica. Em clima de vitória, Dilma é apresentada pelo locutor como "aquela, que segundo todas as pesquisas, será a primeira mulher presidente do país". À noite, o tema foi educação.

No rádio, o programa de Dilma destacou sua liderança na corrida presidencial, com base na última pesquisa Datafolha , e afirmou que "ninguém segura mais" a presidenciável.

- E os bichinhos já estão tudo de bico caído, batendo asa, voando - disse o locutor.

Já a propaganda tucana voltou a atacar Dilma: "Do jeito que ela anda pendurada em Lula se ele se afastar, ela cai".