Título: Hermanos em pânico
Autor: Rizzo, Alana
Fonte: Correio Braziliense, 03/07/2009, Brasil, p. 8

Correio conversa com residente em hospital de Buenos Aires, que relata a situação no país

Com os termômetros registrando temperaturas abaixo de zero, o vírus H1N1 se alastra por Buenos Aires e seus arredores, deixando os hermanos assustados. Escolas suspenderam as aulas, grávidas foram dispensadas do trabalho e até a Suprema Corte adiantou o recesso com medo da gripe suína. Máscaras e álcool em gel sumiram das prateleiras das farmácias. O governo da capital decretou, na quarta-feira, emergência sanitária por 90 dias. Desde então, algumas medidas já foram adotadas. Entre elas a redução da burocracia para a compra de insumos e a contratação temporária de pessoal para as unidades de saúde. O Ministério da Saúde confirma pelo menos 44 mortes e 1.587 casos no país. O 0800 do governo argentino, para tirar dúvidas sobre a doença, já recebeu 33.985 chamadas.

Ontem, o Correio Braziliense conversou, por telefone, com a residente de medicina Paula Roumieo. Ela trabalha em um hospital na Grande Buenos Aires e está assustada com a mudança na rotina de trabalho da unidade de saúde. Profissionais usam duas máscaras cirúrgicas e trocam a cada três horas para evitar o contágio. Leitos estão lotados e o fluxo de pacientes é intenso. Somente em um plantão, Paula conta que mais de 400 pessoas foram atendidas e quase a totalidade apresentava sintomas de gripe, como febre de mais de 38º, dores no corpo, coriza.

¿O governo demorou muito para tomar as medidas primárias¿, critica a residente. O México, onde foi identificada a primeira vítima da doença no mundo, deveria, segundo ela, ter sido usado como modelo. ¿Lá, eles conseguiram evitar a disseminação do vírus¿, diz, citando como exemplo, o fechamento de serviços não essenciais, de museus, cinemas e até mesmo do comércio por cinco dias. A orientação do governo mexicano ¿ que só agora foi adotada pelo argentino ¿ era de que os moradores evitassem sair de casa. ¿O ideal mesmo é não ficar doente. Se isso não acontecer, é importante procurar logo um médico e começar o tratamento¿, diz Paula, alertando para a falta de informação das pessoas. A dica da argentina para os brasileiros que pretendem visitar o país vizinho é cautela. Especialmente, para quem pretende ficar em Buenos Aires e tem baixa imunidade.

Dados do Ministério da Saúde da Argentina mostram que o problema está concentrado na capital e nos arredores. Dos registros de internação, 95% das pessoas moram nessa região. Mas o medo também toma conta do interior. Operadores de agências de turismo decidiram remarcar para depois de 21 de julho as viagens para Bariloche e para Rio Negro. Os dois destinos são bastante procurados nesta época do ano por estudantes secundaristas que estão formando.

O número Dois países, duas medidas 737 casos confirmados da doença no Brasil

O número 1 morte, no Rio Grande do Sul

O número 1.587 casos da doença na Argentina

O número 44 mortes confirmadas em território argentino

Preocupação na fronteira

A Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforçaram as ações de combate e prevenção ao vírus influenza H1N1 na fronteira do Brasil com Argentina e Uruguai. Os profissionais que atuam nos sete postos de controle da agência na região vão receber apoio de outros oito pontos nas cidades brasileiras que ficam na área. Para entrar no Brasil, caminhões, táxis, ônibus e veículos particulares são revistados. Além da análise dos documentos, é passada a recomendação de que motoristas e passageiros usem máscaras para atravessar a fronteira.

O Ministério da Saúde informou que foram confirmados 44 novos casos de gripe suína no Brasil. Os pacientes são dos estados do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal, Paraná e Santa Catarina. No total, já foram registrados 737 casos confirmados de infecção pelo vírus A (H1N1) desde 8 de maio. Em Manaus, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, informou que, nos próximos 15 dias, mais três laboratórios no país passarão a fazer testes de diagnóstico da gripe.