Título: Com avanço do BNDES, juros para empresas sobem no crédito livre
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 25/08/2010, Economia, p. 26

Taxa média cresceu para 28,7% ao ano em julho. Consumidor paga 35,4%

BRASÍLIA. As empresas que não conseguem aproveitar a onda de empréstimos do BNDES estão arcando com taxas de juros cada vez mais elevadas. Isso porque muitas companhias - sobretudo as de grande porte e com riscos menores - passaram a utilizar mais as linhas oficiais nos últimos tempos. Assim, as demais firmas acabam buscando financiamentos no segmento de crédito livre, mais caro por não contarem com subsídios, explicou ontem o chefe do Departamento Econômico do Banco Central (BC), Altamir Lopes.

Como consequência, as taxas médias de juros às pessoas jurídicas cresceram pelo terceiro mês seguido, para 28,7% ao ano em julho, 1,4 ponto percentual a mais que em junho, segundo levantamento do BC. Em agosto, até dia 12, as taxas já estavam em 28,9% ao ano. Esse indicador leva em consideração apenas as taxas operadas com crédito livre, não contabilizando as linhas do BNDES - geralmente baseadas na TJLP, hoje em 6% ao ano.

- Tem uma mudança na qualidade da carteira (com créditos livres). As empresas com nível de risco mais elevado são as que ficaram no segmento livre - afirmou Lopes.

Empréstimos do BNDES sobem 30%. Crédito livre, 7,2%

No mês passado, o saldo de empréstimos do BNDES cresceu 2,5% sobre junho. Em 12 meses, esse volume tem expansão de 30,2%. Já as operações de crédito livre voltadas para pessoas jurídicas apresentaram crescimento de 0,7% no mês, acumulando no último ano apenas 7,2%.

Para o economista da consultoria Tendências Alexandre Andrade, dificilmente os bancos conseguirão competir com o BNDES, porque seus custos de captação são bem mais altos. Mas ele não acredita que esse cenário poderá afetar os investimentos do setor produtivo no país:

- O crédito bancário para empresas é mais voltado para capital de giro, e não investimentos, como no BNDES.

Segundo o BC, em julho, as linhas de capital de giro tinham juros médios de 29,9% ao ano, 1,4 ponto a mais que em junho. Os spreads bancários - diferença entre o custo de captação e a taxa efetivamente cobrada pelos bancos - para as empresas subiram 1,2 ponto percentual em julho, para 18,1 pontos; em agosto, estavam em 18,3 pontos.

Para as famílias, informou o BC, os juros têm subido de forma mais branda. Em julho, o movimento foi de 0,1 ponto percentual, para 40,5% ao ano em média. Em agosto, até o dia 12, o movimento era contrário: queda de 0,1 ponto, voltando a 40,4%.

Lula: "Todos nós gostaríamos que os juros baixassem"

Esse cenário é reflexo das altas da taxa básica Selic, que de abril a junho foi elevada em dois pontos percentuais, para 10,75% ao ano. Na próxima semana, o BC decide a nova Selic, e os analistas preveem manutenção da taxa. No crédito ao consumidor, a alta menor dos juros deve-se ao controle da inadimplência.

O BC informou ainda que o volume total de crédito no país fechou julho em R$1,548 trilhão, com crescimento de 1,2% no mês. O volume corresponde a 45,9% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país).

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a queda de juros, mas sem "descuidar da inflação": "Todos nós gostaríamos que os juros baixassem muito mais e eles vão baixar", escreveu em sua coluna, "O Presidente Responde", publicada em diversos jornais do país. Em discurso ontem, na inauguração de obras em Mato Grosso do Sul, Lula disse que o Brasil já pagou todas suas dívidas internacionais e que, hoje, é o Fundo Monetário Internacional (FMI) que deve ao país US$14 bilhões.