Título: Vale supera estatal como exportadora
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 25/08/2010, Economia, p. 28

Petrobras teve maior perda em valor de mercado entre empresas da América Latina

Eliane Oliveira, Lucianne Carneiro e Mônica Tavares

BRASÍLIA e RIO. Os elevados reajustes do preço do minério de ferro colocaram o produto como principal item de exportação nos sete primeiros meses deste ano e ajudaram a Vale a ultrapassar a Petrobras, em julho, na lista das maiores empresas brasileiras exportadoras. Segundo o Ministério do Desenvolvimento, no acumulado do ano, a Vale vendeu US$10,143 bilhões, alta de 57,65% frente ao mesmo período de 2009, enquanto a estatal petrolífera - mesmo beneficiada com o avanço da cotação internacional do petróleo e com taxa de crescimento de 85,83% - exportou US$10,139 bilhões.

A Petrobras liderava o ranking das exportações brasileiras desde 2002. No ano passado, vendeu ao exterior US$12,306 bilhões, e a Vale, US$ 10,826 bilhões. Nos primeiros sete meses do ano, elas são seguidas por Bunge Alimentos e Embraer.

Recentemente, a Vale bateu a Petrobras em valor de mercado. Ambas são líderes entre as empresas listadas na Bovespa.

Ao mesmo tempo, a Petrobras foi a empresa da América Latina com maior perda de valor de mercado este ano, segundo estudo da Economatica com 751 companhias. A estatal perdeu US$56,177 bilhões em valor de mercado até 23 de agosto, ou 28,2%, para US$143,160 bilhões. O valor é quase o equivalente ao Bradesco (US$60,1 bilhões) ou ao Santander (US$49 bilhões).

Se consideradas empresas dos EUA, a perda da Petrobras só fica atrás da registrada pela Microsoft, de US$60,5 bilhões.

A Eletrobras foi a segunda maior perda em valor de mercado, segundo a Economatica, de US$8,303 bilhões, para US$14,727 bilhões, quase o valor do Grupo Pão de Açúcar (US$8,745 bilhões). Segundo analistas, as ações da estatal têm sido prejudicadas pelo aumento de riscos políticos. Das 20 empresas da América Latina com maior perda no ano, 16 são brasileiras.

Diferença entre cotações do barril é obstáculo

A ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, afirmou ontem que o governo continua debruçado sobre os estudos das certificadoras internacionais para tentar um preço de consenso para o barril de petróleo nas reservas que serão cedidas pela União à Petrobras ainda esta semana e garantir a realização da capitalização da estatal em 30 de setembro. Como este é o objetivo principal, Erenice descartou a contratação de uma terceira avaliadora, pois isso implicaria adiar o processo.

A capitalização está ameaçada pela divergência entre as cotações do barril apuradas pelas empresas contratadas para avaliar as reservas, que teriam US$5 como piso e US$12 como teto. As negociações estão difíceis, porque União e Petrobras têm interesses conflitantes na operação de cessão onerosa. O governo quer o maior valor possível, e a Petrobras, o menor.

Por isso, conforme O GLOBO adiantou ontem, um Plano B está em gestação. Ele passa pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva arcar com o custo político de adiar a capitalização e contratar uma terceira certificadora.

- A intenção é manter o cronograma, e nós estamos nos empenhando nesse sentido - afirmou Erenice, lembrando que o governo quer acertar até o dia 30 o valor do barril.

As reuniões entre os técnicos têm sido diárias. Hoje em Brasília deve ocorrer novo encontro ministerial, coordenado por Lula. É desejo pessoal do presidente não adiar a capitalização, mas ele tem sido alertado para o risco de uma decisão política se não houver consenso técnico entre União e Petrobras.