Título: Lula e a emendinha
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 26/08/2010, O País, p. 19

Presidente, em tom de brincadeira, lamenta falta de iniciativa por mandato maior

BRASÍLIA. A pouco mais de quatro meses do fim de seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu ontem, em tom de brincadeira, que gostaria de ficar mais tempo no Palácio do Planalto. Na cerimônia de assinatura de sete atos na área de Defesa, o presidente elogiou o trabalho do ministro da Defesa, Nelson Jobim, e disse que, com a lei complementar que reestrutura o setor, ele deveria ter mandado para o Congresso "uma emendinha" aumentando o mandato presidencial.

- Está certo que a gente está no fim do mandato, mas você poderia, junto com essa lei complementar, ter mandado uma emendinha para mais alguns anos de mandato... Não mandou, então fica... - brincou Lula.

Na abertura de seu discurso, o presidente causou constrangimento para os comandantes das três Forças, que chamou de companheiros, no melhor estilo petista. Lula disse que, se tivesse mais um ano de mandato, chamaria Enzo Peri (Exército), Moura Neto (Marinha) e Juniti Saito (Aeronáutica) de camaradas - tratamento popularizado pelos comunistas.

- Vocês perceberam que mudou tudo. Agora é de companheiro para companheiro. Mais um ano no poder e eu os chamaria de camaradas - disse.

Foi o primeiro ato de Lula no Planalto, depois da reforma do prédio. O presidente reclamou que o ar condicionado estava muito frio.

Ao defender a necessidade de reaparelhamento e modernização das Forças Armadas brasileiras, Lula disse que se arrependeu de ter comprado apenas um avião - o Airbus A-319 - para atender ao presidente. O AeroLula, como é chamado, foi comprado em fevereiro de 2004, por US$56,7 milhões e tem capacidade para 55 passageiros. Lula disse que muitos o desaconselharam da compra, porque a imprensa falaria mal.

- O meu arrependimento é não ter comprado um maior ou talvez dois, porque hoje eu sei o quanto custa montar delegações de empresários para levar nas viagens internacionais. Muitas vezes a gente não tem avião - afirmou.

O presidente lembrou os problemas enfrentados pelos aviões mais velhos mundo afora, no seu governo e no anterior.

- Eu pensei: é melhor ter coragem de comprar o avião do que ficar ouvindo que estou voando no sucatão (apelido do Boeing 707). Um país do tamanho do Brasil não poderia se permitir tal ofensa. Não era possível que o Brasil continuasse assim, se apequenando, com vergonha de fazer as coisas - disse Lula. (Luiza Damé)