Título: Migrantes viram fonte de renda para os cartéis mexicanos
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 27/08/2010, O Mundo, p. 41

CIDADE DO MÉXICO. Os migrantes são agora o principal alvo do crime organizado no México porque são vistos como uma forma fácil e rápida de conseguir dinheiro, de acordo com a organização civil mexicana Sem Fronteiras. Segundo Diana Martínez, coordenadora da organização, sobretudo quando se trata de sequestro. O perigo não reside apenas na fronteira entre o México e os EUA. O número de raptos na fronteira sul mexicana, onde começa o sonho americano de muitos migrantes ilegais oriundos da América Central e do Sul, é ainda maior, segundo a Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH).

De acordo com o órgão, os estados sulistas de Veracruz e Tabasco, juntos, somaram 5.322 sequestros de migrantes ilegais entre 2008 e 2009, o que corresponde a 55% do total contabilizado no país no período. O montante exigido das vítimas para sua liberação varia entre US$1. 500 e 5.000 (R$2.640 a 8.800). A média dos resgates pagos constatada pela CNDH é de US$2.500.

O órgão também constatou que 67,44% das vítimas viajavam em grupo quando foram abordadas, o que seria para tornar o crime mais lucrativo aos criminosos. A descrição do calvário é feita de maneira parecida: os migrantes são transportados em caminhões de carga, ou com os olhos vendados, até chegar ao cativeiro, muitas vezes, superlotado.

De acordo com a organização Sem Fronteiras, 45% dos detidos vêm da Guatemala; 32,8%, de Honduras; e 14,6%, de El Salvador. O padre Alejandro Solalinde Guerra, coordenador da Pastoral de Mobilidade Humana da Região Sul-Pacífico, afirma que o problema de sequestro de migrantes é denunciado há anos pela Igreja Católica, mas só com a descoberta de 72 corpos a questão ganhou o debate público. O sacerdote culpa a corrupção das autoridades mexicanas e o descaso dos governantes pelo ocorrido.

¿ O assassinato dessas 72 pessoas são uma demonstração do clima de insegurança e violência que vivemos no México, onde não há segurança para ninguém, muito menos para os irmãos migrantes.