Título: Petrobras negocia mas barril deve ficar em US$ 8
Autor: Paul, Gustavo; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 27/08/2010, Economia, p. 37

Governo afirma que faltam detalhes para garantir o processo, mas fontes dizem que valor do barril não foi fechado

BRASÍLIA. O governo federal trabalha apenas nos detalhes finais da cessão onerosa de barris à Petrobras, o que indica que está praticamente garantida a capitalização da estatal em 30 de setembro. Intensas reuniões técnicas dos últimos sete dias estariam levando o preço do barril a cerca de US$ 8, podendo chegar a US$ 8,20 ou US$ 8,30. A Petrobras, no entanto, estaria tentando uma última cartada, para levar o preço do barril para a faixa dos US$ 6. O governo, no entanto, não confirma.

Ontem, o presidente Lula esteve mais uma vez reunido com a equipe de ministros, além do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Lula já teria em mãos várias análises técnicas.

A demora na reunião de ontem acabou atrasando em duas horas a cerimônia de assinatura do contrato de concessão da usina de Belo Monte. A estratégia oficial é negar os dados, para coibir especulações.

O presidente Lula e os ministros Erenice Guerra, da Casa Civil, e Márcio Zimmermann, de Minas e Energia, reiteraram que ainda faltam detalhes.

É segredo de Estado. Ainda tem uma fase de discussão técnica informou Lula, para, depois, reafirmar que o tema não pode ser objeto de especulação.

Ainda estamos na fase de aprofundar as avaliações técnicas, a fim de levar ao presidente subsídios firmes para ele bater o martelo. Não temos definição técnica suficiente para ele decidir disse Erenice.

A demora justifica-se também pela burocracia inerente a processos de abertura de capital. O da Petrobras é considerado o maior já feito no mundo. Para que a capitalização seja deslanchada até o início de setembro, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) terá de elaborar um laudo técnico com a justificativa para o valor do barril.

A Petrobras precisa do documento para apresentar à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e publicar um fato relevante anunciando a capitalização.

Paralelamente, o laudo será apresentado ao Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que aprovará o contrato de cessão onerosa de até cinco bilhões de barris.

Por ter de cumprir todas essas formalidades, o governo sinaliza que a divulgação dos valores só ocorrerá no início da próxima semana. A ministra Erenice disse que o governo mantém a data de 30 de setembro e admitiu que pode ter algo na próxima segunda-feira.

Mas o governo ainda trabalha com cenários alternativos. Pessoas próximas a Lula revelaram que uma das possibilidades é um aporte menor para a Petrobras, num primeiro momento.

A capitalização não chegaria aos R$ 150 bilhões autorizados pelo conselho da empresa. Essa redução ocorreria devido às incertezas do mercado. A segunda parte da capitalização seria definida posteriormente pelo próximo presidente da República.

Outra opção é a contratação de uma terceira certificadora internacional uma saída mais segura, segundo interlocutores do grupo que conduz as conversas, para evitar questionamentos jurídicos.

A outro interlocutor, Lula disse que a avaliação é que nada pode dar errado no processo de capitalização.

O presidente tem repetido que sua decisão será política e mencionou o forte componente eleitoral envolvido.

COLABOROU Chico de Gois