Título: Recordes no emprego
Autor: Almeida, Cássia; Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 27/08/2010, Economia, p. 35

Taxa de desemprego cai para 6,9%, a 2a- menor desde 2002. Renda sobe 5,1%

O mercado de trabalho está em seu melhor momento desde 2002. A Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada ontem pelo IBGE, mostrou que a taxa de desemprego de julho ficou em 6,9% nas seis maiores regiões metropolitanas do país, segunda menor da série histórica do levantamento, iniciado em 2002. O índice praticamente se igualou ao dos meses de dezembro, quando o desemprego sempre cai com a queda da procura por uma vaga e a abertura de ocupações temporárias para o Natal.

As menores taxas da série foram em dezembro de 2008 e 2009, de 6,8%. Em junho, o indicador estava em 7% e, em julho do ano passado, atingira 8%: Estamos com a menor taxa da série no mês de julho. Os números são praticamente idênticos aos de dezembro.

Isso é um resultado inédito. A tendência da taxa de desemprego é apresentar sempre o valor mais baixo em dezembro. Daqui para frente, a expectativa, em função da análise da série histórica, é de que a taxa venha a cair. Sem dúvida, a taxa de 6,9% é o recorde da série afirmou Cimar Azeredo, gerente da pesquisa.

Enquanto o desemprego cai, o rendimento sobe. O salário médio do trabalhador nas principais metrópoles cresceu 2,2% frente a junho e 5,1% contra julho do ano passado, chegando a R$ 1.452,50. Quando se olha a massa de salários (total dos ganhos de todos os trabalhadores), houve alta de 8,7% no ano e 3% na comparação mensal.

Para Azeredo, do IBGE, o ganho de renda reflete a melhoria no mercado de trabalho, com mais pessoas empregadas e aumento do emprego formal.

Além disso, a indústria está voltando a contratar e os rendimentos nesse setor são maiores.

De janeiro a julho, a taxa de desemprego ficou em média em 7,3% a menor desde 2002. Para o diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, a taxa deve continuar caindo nos próximos meses: O terceiro trimestre é a época do auge da produção da economia e isso se reflete no mercado de trabalho.

Falta de mão de obra qualificada preocupa

O economista Carlos Henrique Corseuil, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), diz que não se surpreenderia se a taxa de desemprego ficar menor que 6% em dezembro.

Para os mais escolarizados, o desemprego é quase residual. Pelos dados da pesquisa, para os quem têm curso superior ou mais, a taxa de desemprego é de 2,5%. Eles representam apenas 6,2% do total de 1,6 milhão de desempregados.

Com diploma de arquitetura na mão e experiência adquirida nos tempos de estágio no currículo, Vinicius César, de 24 anos, só ficou desempregado por apenas um mês. Até fechar com o atual emprego, participou de entrevistas e até mesmo recusou propostas: Com experiência e boa formação, fica mais fácil entrar para o mercado de trabalho resumiu.

O número de trabalhadores com carteira assinada também subiu fortemente no mês: 5,9% frente a 2009.

Isso vem da mudança na estrutura no mercado de trabalho, com aumento da ocupação nos serviços prestados às empresas e da fiscalização mais intensa disse Azeredo, do IBGE.

Mas o bom momento do mercado de trabalho pode estar ameaçado pela falta de profissionais especializados.

Sem mão de obra qualificada, cresce o risco de o país ter que importar profissionais, fazendo engrossar a população de desocupados.

É o que afirma Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral.

É o paradoxo brasileiro. De um lado, ainda há uma massa de desempregados, do outro, falta gente especializada. Isso se deu porque governo e empresas não investiram em formação. Agora, contudo, as empresas querem retomar seus projetos após a crise, mas não há recursos humanos para isso disse Resende, acrescentando que a escassez de pessoal é um obstáculo ao crescimento nos próximos anos.

De acordo com estudo da instituição, as empresas sentem dificuldade em contratar pessoal especialmente engenheiros e técnicos.

Num universo de 76 empresas, que somam 16% da economia nacional, 67% delas enfrentam dificuldade em contratar. A atividade que mais se queixa disso, segundo a Fundação, é o de construção (88%). Faltam engenheiros em setores como siderurgia, metalurgia e eletroeletrônicos.

Faltam cursos específicos para, por exemplo, engenheiros de petróleo e nanotecnologia. É como se o país tivesse apostado que as carreiras do passado seriam as mesmas do futuro. Faltam planejamento, um programa de mobilidade de mão de obra entre as regiões do país e um cruzamento entre as reais necessidades do mercado de trabalho.

Mas, para os economistas, não há risco de um apagão generalizado de mão de obra.

Pode faltar mão de obra qualificada, principalmente com esse ritmo. Mas não há risco de apagão generalizado, já que taxa de desemprego de 7% não é baixíssima disse Corseuil, do Ipea.

Saboia, da UFRJ, complementa citando os 2,4 milhões de inativos que gostariam e estão disponíveis para trabalhar: Isso significa uma reserva de mais de 10% de trabalhadores que podem entrar no mercado a qualquer momento.