Título: O Palácio da Liberdade é uma máquina quase invencível
Autor: Vasconcelos, Adriana; Fabrini, Fábio
Fonte: O Globo, 27/08/2010, O País, p. 16

Candidato ao governo de Minas, Hélio Costa admite que chegará à reta final "pau a pau"

Adriana Vasconcelos, Fábio Fabrini e Helena Celestino

Enviados especiais

BELO HORIZONTE. Líder nas pesquisas, mas assistindo ao crescimento do governador Antonio Anastasia (PSDB), seu principal adversário, o senador Hélio Costa (PMDB) disputa a terceira eleição para o governo de Minas Gerais com o discurso de que está diante de uma muralha praticamente intransponível. Para vencer, diz que terá de neutralizar os efeitos da popularidade do ex-governador Aécio Neves (PSDB) sobre a campanha rival. E, mesmo 11 pontos à frente, segundo pesquisa Ibope, já admite que o tucano deve encostar. Quando chegarmos à reta final, não tem diferença. Vamos estar trabalhando pau a pau, afirma, acrescentando que, nos pleitos anteriores, perdeu por 1% ou menos.

Em entrevista ao GLOBO, Costa chamou o Palácio da Liberdade de o mais forte partido do estado e acusou o governo de fazer campanha suja, coagindo prefeitos e plantando informações na imprensa. Dizendo-se aborrecido com a campanha, Hélio Costa reclamou de notícias que classificaram de caixa dois denúncia apresentada pelo PSDB ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) de Minas para ele, as despesas deveriam ser tratadas como gasto antecipado para uso de um avião na pré-campanha.

Devem estar morrendo de rir, dizendo: Aquele babaca vai ter de ficar o dia inteiro explicando o que é caixa dois. Demonstrando irritação e até impaciência, o candidato peemedebista pediu para ser fotografado apenas no início da entrevista, concedida no seu comitê. Não queria ser flagrado em pose com muitos gestos. Disse que é difícil ser oposição no segundo colégio eleitoral do país, mesmo com o apoio de Lula. Durante todo o tempo, o senador evitou críticas diretas a Aécio, mas disse que o governo do tucano pecou no social: As ações do governo Lula é que salvaram Minas. Sobre a campanha nacional, Costa já canta a vitória de Dilma no primeiro turno, mas afasta a ideia de que a oposição sairá muito menor ou desaparecerá. Ele evitou falar sobre a divisão de espaços num eventual governo da petista. Mas disse que a composição de forças no Congresso deve ser a mesma, com o PMDB fazendo o maior número de parlamentares e, em consequência, tendo o direito às presidências da Câmara e do Senado: Não é isso o que diz a lei? Que o partido majoritário indica o presidente?

O GLOBO: Anastasia subiu nas pesquisas, e o senhor caiu. É motivo de preocupação? HÉLIO COSTA: Em Minas é sempre assim. O Palácio da Liberdade é o partido mais forte de Minas. Você pode juntar PT, PMDB, PRB e PCdoB que não dão o PL. É uma máquina quase invencível.

O GLOBO: Nessa guerra de padrinhos entre Lula e Aécio, quem pode mais aqui? COSTA: Quem tiver mais tempo.

O GLOBO: O Aécio é quem está aqui o tempo todo. O senhor pediu ajuda a Lula; ele vai desembarcar aqui? COSTA: Não é a presença física do Lula que faz diferença a 30 dias (das eleições). É a disponibilidade para renovar mensagens na TV. Certamente, ele está ciente disso, e eu tenho certeza de que vai me ajudar.

O GLOBO: Lula pode frear esse crescimento recente do Anastasia? COSTA: Não é frear, mas equilibrar os pesos políticos. Da mesma forma que o ex-governador é forte, o Lula é muito forte.

O GLOBO: Na pré-campanha, o senhor esteve algumas vezes no Palácio da Liberdade, sempre muito elogioso a Aécio. Mudou de ideia? COSTA: Não é esta campanha que vai me tirar do sério, que vai me tornar adversário do Aécio. Sempre tivemos relacionamento amistoso. Como senador, é minha obrigação me reportar ao governador sobre o estado. Não tem nada que desabone isso. Nunca saí elogiando o Aécio. Ele foi um bom governador. Só acho que nós temos agora condições de, se ele fez muito por Minas, fazer mais, aprimorar. (...) Disse para Aécio que, se ele fosse candidato a presidente, eu não teria condições de ser candidato a governador, porque seria muito difícil querer se eleger contra uma candidatura mineira.

O GLOBO: O senhor acha que Aécio estaria em melhores condições que o Serra? COSTA: Não quero entrar nessa questão. Na verdade, quem está perdendo para a Dilma é o Serra, e vai perder feio, no primeiro turno. Ela já está consagrada como a candidata de preferência do eleitor.

O GLOBO: Em tempos de Ficha Limpa, ter na chapa Newton Cardoso, com tantos processos, não compromete sua imagem? COSTA: Represento uma ala nova no PMDB, que disputou a presidência do PMDB, que estava com o grupo newtista há mais de 20 anos. Conseguimos renovação. Quando terminou a campanha (interna), unificamos (o partido). Não aceito nenhuma posição que não seja aquela da Justiça. Se ele estivesse condenado, e (com o processo) transitado em julgado, sequer estaria no PMDB.

O GLOBO: Mas o grupo de Newton Cardoso no partido é forte. Ele governará com o senhor? COSTA: Não existem mais um grupo de Newton e um do Hélio. Estamos unificados. Temos pessoas qualificadas no PMDB que poderão participar, mas eu não tenho condições de dizer quem ou quantos.

O GLOBO: O senhor afirmou em entrevista que o ex-presidente Fernando Collor é um injustiçado. Por quê? COSTA: Naquela época houve uma quase revolta contra ele. A opinião pública toda se posicionou contra. Toda vez em que você tem que fazer justiça diante de um quadro de revolta nacional, a pessoa fica prejudicada. A Justiça fez justiça no caso do Collor, analisando todas as peças que foram colocadas contra ele. Chegou à conclusão de que ele não tinha responsabilidade sobre grande parte daquilo que imputaram a ele.

O GLOBO: O povo e o Congresso foram injustos? COSTA: Não estou dizendo isso. A Justiça existe para julgar homens e mulheres. Não contesto as decisões da Justiça, acolho.

O GLOBO: Uma das críticas ao PT no governo é sobre o aparelhamento político. O que o senhor acha? COSTA: Dê exemplos.

O GLOBO: Os Correios (sob sua gestão no Ministério das Comunicações). Havia indicados seus, como o ex-presidente que foi demitido. COSTA: Veja só a injustiça que se comete com uma empresa que no ano passado deu R$ 850 milhões de lucro, que este ano dará R$ 1 bilhão de lucro, que tem 116 mil empregados.

O GLOBO: E que se tornou ineficiente... COSTA: Isso é o que dizem os lobistas.

O GLOBO: É uma experiência diária de quem recebe carta. COSTA: Nossa eficiência é melhor que a dos correios americano, francês. Aqui os lobistas plantaram isso para que os Correios sejam desmoralizados e vendidos.

O GLOBO: Os Correios começaram a ser desmoralizados na CPI dos Correios. COSTA: A CPI não é do meu tempo. E uma outra coisa: o presidente dos Correios não foi demitido por ação ilícita ou de gestão. Os Correios precisam de uma modernização. Fizemos (numa comissão interministerial) as primeiras reuniões, e elas levaram a uma sugestão: vamos mudar tudo.

O GLOBO: Por que tem de tirar os diretores para modernizar os Correios? COSTA: O presidente (Lula) entendeu que havia um impasse entre o presidente e um diretor, e o presidente falou: vamos resolver começando por trocar o presidente dos Correios. Não houve crise.

O GLOBO: A popularidade recorde do presidente Lula pode construir uma hegemonia que acabe com a oposição? COSTA: Não há risco. Acho que vamos manter o mesmo nível de forças no Congresso: PMDB majoritário, PT possivelmente em segundo, e PSDB em terceiro.

O GLOBO: Com maioria na Câmara e no Senado, caberiam ao PMDB as presidências das duas casas? COSTA: Claro. Não é isso o que diz a lei? Que o partido majoritário indica o presidente, a menos que você faça um entendimento entre partidos? A lei é clara.

O GLOBO: E no governo? Setores do PMDB defendem que quem tiver maioria no Congresso tenha mais cargos. COSTA: Isso é bobagem. Lula nunca fez isso, e Dilma não faria.

O GLOBO: O senhor gosta de fazer campanha? COSTA: Não. Estou emburrado, aborrecido.

O GLOBO: Por quê? COSTA: É cansativo (a disputa). Estou há seis meses. Me alivia ir para a rua, mas começo a ficar aborrecido na medida em que sinto que as forças em torno do poder são quase intransponíveis.

O GLOBO: O senhor fala do Palácio da Liberdade? COSTA: Estou falando que, na oposição, é muito difícil. Todo candidato do governo está sorrindo, o candidato da oposição está sempre triste.

O GLOBO: O senhor é oposição aqui, mas é do governo (federal) mais popular da História. Mesmo assim é duro? COSTA: Aqui, somos (sic) 853 municípios, e pelo menos 650 têm menos de 20 mil habitantes. Com menos de 20 mil, o município é totalmente dependente das ações do estado. Quando o terceiro escalão do Palácio da Liberdade pega o telefone, chama um prefeito e diz Não faça isso, desagrada ao governador fica todo mundo assim... Os prefeitos em Minas são coagidos. Quando vou chegar a uma cidade, ele já recebeu três ligações do Palácio: Olhe, não vá recebê-lo.

O GLOBO: A máquina está sendo usada na campanha? COSTA: É muito difícil separar onde está o candidato e onde está o governador. Essa é uma das injustiças da reeleição.

O GLOBO: Mesmo sem reeleição, Dilma disputa a Presidência sob a mesma acusação. COSTA: Mas é diferente de um governador ser o candidato. Por exemplo: ele quer fazer uma visita política ao Vale do Aço. Programa visita oficial às 16h, usa o avião do governo e, às 18h, faz a reunião política. Onde eu vejo cada um?

O GLOBO: O nível está baixo na campanha? COSTA: É jogo sujo, é jogo podre, como eles gostam de fazer. É assim que eles jogam em Minas.

O GLOBO: O senhor é político há muito tempo, deve ter passado por isso muitas vezes. Dói dessa maneira? COSTA: A ação política bem feita, eu respeito. Agora, o jogo podre, eu fico aborrecido. Eles devem estar morrendo de rir de nós, dizendo: Aquele babaca vai ter de ficar o dia inteiro explicando o que é caixa dois, e nós é que plantamos isso na gloriosa imprensa brasileira.

O GLOBO: O senhor identifica essa campanha negativa, que chamou de podre, no Palácio da Liberdade? COSTA: Nele, só nele.

O GLOBO: O senhor está livrando o Aécio? COSTA: O Aécio não tem nada com isso. Não entra nessas coisas baixas, a minha relação com ele não permite. É coisa de assessor de campanha.

O GLOBO: Qual foi o ponto em que o governo Aécio falhou? COSTA: Na questão social. As ações sociais do governo Lula é que realmente salvaram Minas. O que o governo do estado fez foi atrelando esses programas aos dele. Minas, terceira potência econômica do país, é o 10º estado em renda per capita. Mais de 65% da população têm a renda menor que a média nacional. Este é o estado maravilhoso que eles criaram nos últimos oito anos.

O GLOBO: E por que essa popularidade tão grande de Aécio? COSTA: Aqui, todo mundo gosta do Aécio. É um jovem, simpático, bonitão, boa gente para danar. Ninguém quer brigar, criticar, falar mal nem apontar erros. Fica por aí.