Título: PT procura uma desculpa
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 04/07/2009, Política, p. 4

Para embarcar no apoio a Sarney sem irritar eleitorado, partido tenta capitanear pacote de reestrutura do Senado

Mercadante: ¿Não temos responsabilidade administrativa da Casa, que sempre foi do DEM e do PMDB¿

Os senadores do PT e do PMDB vão passar as próximas 48 horas em busca de um discurso que permita aos petistas apoiar o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), sem desagradar o pedaço do eleitorado do partido que levou a bancada a defender que o peemedebista se afastasse da Presidência da Casa. Essa construção do apoio passa, por exemplo, por um pacote de medidas, como uma Lei de Responsabilidade Fiscal do Legislativo, nos moldes da que existe hoje no Poder Executivo. As propostas foram discutidas ontem no encontro entre Sarney e Luiz Inácio Lula da Silva, que confirmou o apoio ao peemedebista.

O tom do que pode unir o PT a Sarney foi anunciado pelo próprio líder petista Aloizio Mercadante (SP) ao relatar o jantar de quinta-feira entre Lula e os senadores do partido. ¿Essa bancada não vai abdicar de propor uma reestruturação do Senado. A bancada queria isso quando lançou Tião Viana. Perdemos. Não temos responsabilidade administrativa da Casa, que sempre foi do DEM e do PMDB¿, disse o líder.

Essa proposta começou a ser desenhada no jantar de quinta-feira, entre Lula e a bancada petista do Senado, um encontro tenso, a ponto de o líder quase pedir para sair do comando do grupo. Foram cinco horas em que o presidente tratou a resolução da crise como uma ¿questão de estado e governabilidade e que o governo precisa da aliança com o PMDB¿. De outro lado, parte da bancada do PT insistia no afastamento temporário.

Diante do impasse, o presidente perguntou o que poderia levar o partido a rever a posição. Daí, chegou-se à reestruturação da Casa. Entre os projetos, discute-se, por exemplo, o corte de 40% dos terceirizados, a fusão do Instituto Legislativo Brasileiro (ILB) com a Universidade do Legislativo (Unilegis) e até a criação de nova instância, como comissão de fiscalização e controle dos atos internos. Sarney pretende anunciar parte delas já na próxima semana, como forma de sair da defensiva em que ficou nos últimos dias, a ponto de admitir a renúncia na quarta-feira, quando o PT pediu o afastamento dele da Presidência.

Muitas dessas propostas serão feitas sob encomenda para atrair, por exemplo, um dos principais adversários de Sarney dentro do PT, o senador Tião Viana, um dos mais resistentes à permanência de Sarney no comando do Senado. Se as propostas dele forem incorporadas, será a senha para, pelo menos, uma trégua entre PT e Sarney.

Análise da notícia Simbiose política

A avaliação geral dos políticos é a de que a crise do Senado fecha esta semana duas oitavas abaixo do tom do sábado passado. Isso porque o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, estenderam as mãos um ao outro. Lula, do alto de uma popularidade de 80%, busca levar o PT ao apoio a Sarney, e é direto: ¿Eleição a gente vê depois, essa crise é porque a oposição não quer o PMDB do nosso lado¿, comentou Lula. O peemedebista, por sua vez, garante o apoio do PMDB ao governo. Esse frágil equilíbrio, se rompido de um lado ou de outro, é prejudicial aos dois.

Lula não deseja ver proliferar no Senado uma onda de CPIs e rejeição de projetos. Sem o PMDB, jamais teria fôlego para vencer ali. Da mesma forma, sem o governo lhe dando sustentação, Sarney também não teria a tropa que precisa para escapar da crise. No frigir dos ovos, quem sai meio alquebrado é o PT. (DR)