Título: Na década, spread bancário cai bem menos que juros e engorda os lucros
Autor: Alvarez, Regina; Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 22/08/2010, Economia, p. 32

Para empresas, custo alto do capital faz país perder competitividade

BRASÍLIA. A queda substancial nas taxas de juros registrada nos últimos dez anos não foi acompanhada, na mesma proporção, pela redução do spread bancário parcela dos custos relativa aos riscos de cada operação financeira que é embutida nos juros cobrados dos clientes finais. Isso, segundo analistas, sustenta em grande parte a lucratividade dos bancos em um cenário de estabilidade econômica. Em 2000, início da série histórica do Banco Central, os spreads eram de 28,37 pontos, para taxa média de juros de 46,3% ao ano. Em junho de 2010, a taxa havia recuado para 34,6% (queda de 25%), e os spreads, para apenas 23,51 pontos (queda de 17,2%).

Essa combinação de economia estabilizada e forte, com demanda aquecida, crédito farto, juros e spreads altos é perfeita para o setor financeiro, pois garante ganhos elevados com baixo risco de inadimplência avalia um analista do mercado financeiro, que prefere se manter no anonimato.

Nos últimos dez anos, os bancos também ampliaram seu espaço na economia, enquanto a participação do setor produtivo encolheu. Em 2000, segundo a nova série do IBGE, o setor industrial tinha uma participação de 27,7% no PIB e o segmento financeiro dos serviços tinha 6%. Em 2009, a indústria caiu para 25,4% e o setor financeiro subiu para 7,3%.

Na visão do setor industrial, o peso dos juros e dos spreads bancários são responsáveis, em grande parte, pela perda de espaço da indústria na economia, combinado com outros fatores, como a carga tributária elevada o câmbio valorizado e a burocracia.

A Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp) tem um estudo que compara a competitividade na indústria em 43 países, onde o Brasil se destaca, entre outros aspectos, pelo alto custo do capital.

O custo do capital no Brasil é disparadamente maior afirma o diretor de Competitividade e Tecnologia da Fiesp, José Ricardo Coelho.

O diretor na linha de discurso do setor produtivo é um crítico dos juros e spreads altos, que, na sua visão, tiram competitividade da indústria e engordam os lucros dos bancos: Quanto maior a carga de juros, mais o governo tem que pagar para rolar o gasto. E os bancos ganham dos dois lados.

Coelho apresenta dados que mostram como a indústria nacional compete em condições desiguais com seus concorrentes no exterior, em relação ao custo do capital. Os juros médios no país estavam em 43,3% ao ano, em meados 2009. Já nos países que competem com o Brasil a média era de 13,5% ao ano.

O Brasil tem os maiores spreads do mundo. Por que temos que pagar taxas de risco tão altas se estamos tão bem? pergunta.