Título: Destino mais útil para o lixo urbano
Autor:
Fonte: O Globo, 22/08/2010, Opinião, p. 6

Em 2008 (estatística mais recente), 50,8% dos municípios brasileiros depositavam em vazadouros a céu aberto o lixo que recolhiam, segundo o IBGE. Embora seja um percentual alarmante, houve na verdade uma melhora expressiva nos últimos vinte anos, pois, em 1989, os chamados lixões estavam presentes em 88,2% dos municípios. A coleta seletiva evoluiu, e, em 2008, já era feita por 994 municípios (46% dos que estão situados na Região Sul e 32,4% no Sudeste).

Mesmo com a coleta seletiva avançando (e contribuindo para reciclagem), conjugada a um esforço para uso de material degradável ou retornável nas embalagens, os aterros sanitários continuarão sendo necessários para substituir todos esses lixões, o que muitas vezes exigirá o transporte dos resíduos sólidos por longas distâncias.

Em um município como o Rio de Janeiro, onde diariamente se recolhe enorme volume de lixo urbano, a capacidade desses aterros pode se esgotar rapidamente. Daí que pode ser uma solução a queima de parte desses resíduos em usinas geradoras de energia elétrica. A tecnologia está disponível há cerca de duas mil usinas com essas características pelo mundo , o que levou a prefeitura do Rio a assinar um convênio com a Coppe (que coordena os cursos de pós-graduação em engenharia na UFRJ), para avaliar um programa voltado para a instalação desse tipo de usina no município, começando pelo Caju.

A queima dos resíduos sólidos pode ser feita sem emissão de material particulado (poeiras tóxicas) e de gases que prejudiquem a saúde de moradores de áreas próximas.

Geralmente, tais usinas só queimam os resíduos secos que sobram após a retirada de materiais recicláveis. E ainda costumam produzir fertilizantes com os restos da queima.

O custo de instalação chega a ser dez vezes maior por quilowatt do que em hidrelétricas, o que as torna menos atrativas para investidores interessados apenas na energia. No entanto, têm algumas compensações, como a possibilidade de ficarem junto aos centros de transferência de lixo, evitando-se transporte de milhares de toneladas de resíduos para áreas distantes (aterros sanitários). A eletricidade gerada também não percorrerá longas distâncias até os pontos de consumo, e nesse caso praticamente não há perdas técnicas na transmissão.

É preciso então pôr tudo isso na ponta do lápis e fazer as contas, para se assegurar da viabilidade desses projetos. Como há ganhos ambientais não mensuráveis economicamente, talvez essas usinas de queima de lixo e geração de energia sejam um caso típico de parceria público-privada, assim como já ocorre em projetos de tratamento de esgoto.

Não é novidade o aproveitamento de aterros sanitários como fonte de usinas termoelétricas.

A própria prefeitura do Rio tem um acordo com a Petrobras para extrair grande volume de metano do aterro sanitário de Gramacho, próximo de ser desativado, e aproveitá-lo na rede de gás canalizado que abastece residências na capital e em cidades próximas. O ganho ambiental embutido nesse tipo de projeto tem de ser considerado, necessariamente.