Título: Cada dia sem reforma são 2 pessoas mortas
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Fonte: O Globo, 29/08/2010, O Mundo, p. 44

WASHINGTON. Em 2009, Enrique Morones, fundador da associação Anjos da Fronteira, recebeu no México o Prêmio Nacional de Direitos Humanos. Nascido em San Diego (EUA), de pais mexicanos, ele critica as políticas dos EUA e do México para os imigrantes e cobra ações urgentes dos presidentes Calderón e Obama para conter as mortes diárias na fronteira.

Qual o seu sentimento em relação à tragédia de Tamaulipas?

ENRIQUE MORONES: Estamos muitos tristes, foi um crime sem perdão. Quando recebi o Prêmio Nacional pelos Direitos Humanos, disse ao presidente Calderón que não podíamos pedir ao Norte o que não fazemos no Sul. Não podemos pedir aos EUA que nos tratem bem, quando nós mesmos mexicanos não estamos tratando bem os irmãos de outros países. E o que o ocorreu agora é mais um exemplo.

Como o senhor analisa as políticas de México e EUA na questão migratória?

MORONES: Isso chama a atenção para a urgência na reforma migratória nos EUA. Tive encontros com o presidente Obama e com Calderón. Obama prometeu uma reforma no primeiro ano de governo. Já passou o primeiro ano e nada. Cada dia sem a reforma são duas pessoas mortas. E agora, neste caso, foram mais de 70. Esperemos que México e EUA façam algo em relação à situação de crise.

Qual é a influência da política dos EUA de mais segurança nas fronteiras?

MORONES: Esse muro da morte, construído em 1994, matou mais de 10 mil pessoas. Antes disso, morriam de uma a duas pessoas por mês, e agora é isso por dia. Todas essas pessoas da América Central, do Sul, do México passam pelo deserto porque não há outra forma de entrar. Necessitamos de um caminho legal, pelo qual se possa entrar pela porta da frente, e não pela de trás.

Quais os resultados da estratégia mexicana de combate aos cartéis?

MORONES: É uma situação muito difícil. Calderón teve alguns resultados bons e outros ruins. Em relação à droga, a solução passa principalmente pela demanda dos americanos. Eles consomem mais da metade da droga ilegal do mundo. A demanda causa muitas mortes. No México, já morreram quase 30 mil policiais e outras pessoas na fronteira. Isso é devido à violência e às guerras de grupos de narcotraficantes para ter o poder. Isso está misturado ao fluxo dos imigrantes e ao crime organizado. É preciso uma reforma tanto no México como nos EUA. (F.E.)