Título: Mortos em chacina são de Minas
Autor:
Fonte: O Globo, 29/08/2010, O Mundo, p. 44

México identifica dois brasileiros, mas Itamaraty ainda tenta localizar as famílias

PARENTE MOSTRA a foto do guatemalteco Gilmar Castillo Morales, identificada como uma das vítimas do massacre de San Fernando

RIO, BRASÍLIA e CIDADE DO MÉXICO

Oconsulado-geral do Brasil no México confirmou que dois cidadãos brasileiros do estado de Minas Gerais estão entre as 72 vítimas da chacina de San Fernando, no estado mexicano de Tamaulipas. O embaixador brasileiro, Sérgio de Abreu e Lima Florêncio, e o cônsul-geral, Márcio Araújo Lages, viajaram às pressas à cidade de Reynosa ¿ onde se concentram as investigações do crime, atribuído ao cartel de drogas Los Zetas. As identidades das vítimas só serão divulgadas depois que o Itamaraty conseguir notificar as famílias ¿ o que não havia acontecido até o início da noite de ontem.

Autoridades mexicanas informaram ainda que as investigações apontam para um segundo passaporte brasileiro encontrado no local do crime, um rancho próximo a San Fernando. O corpo desse segundo brasileiro, porém, não havia sido identificado.

Explosões atingem local da perícia

Segundo o consulado brasileiro na Cidade do México, a vítima identificada seria um rapaz de cerca de 20 anos de idade.

¿ Tivemos acesso à cópia do passaporte e é um brasileiro. O Itamaraty está tentando entrar em contato com a família no Brasil e somente depois disso o nome do imigrante brasileiro será divulgado ¿ afirmou Lages ¿ O processo de identificação é lento e tem que ser feito com cuidado ¿ ponderou.

Até a tarde de ontem, além do brasileiro, 30 cadáveres haviam sido identificados ¿ 14 hondurenhos, 12 salvadorenhos e quatro guatemaltecos. De acordo com o jornal ¿El Comercio¿, o equatoriano Luis Freddy Lala Pomavilla, de 18 anos, único sobrevivente do crime, rejeitou o visto humanitário que lhe dava status legal no México e será repatriado tão logo melhore seu estado de saúde. Temendo por sua segurança, o governo mexicano atendeu aos pedidos de Quito para transferir o jovem de Tamaulipas para um hospital militar na capital, Cidade do México.

Segundo a imprensa guatemalteca, algumas vítimas foram reconhecidas pela roupa que usavam, através de imagens de TV, como o jovem Gilmar Morales Castillo, de 22 anos. Ele vivia ilegalmente na Califórnia há cinco anos, mas havia retornado à terra natal para conhecer o filho de 5 anos e oficializar o casamento. Parentes contam terem recebido telefonemas de homens dizendo-se do cartel Los Zetas tentando extorqui-los: o preço do resgate do jovem fora estipulado de US$2 mil, mas as ameaças não foram levadas a sério.

¿ Eu me recusei a perceber a verdade, mas coração de mãe não se engana. Minha esposa sabia que ele estava entre os mortos ¿ lamentou o pai de Gilmar, Cesar Augusto Morales

Numa tentativa de agilizar o processo de identificação dos trabalhadores ilegais, o presidente do Conselho Nacional de Segurança do México, Alejandro Poiré, afirmou que a Procuradoria-Geral da República assumiu ontem a responsabilidade pela investigação do caso ¿ antes dividida com o escritório estadual da Procuradoria, o que, segundo diplomatas, estaria provocando desentendimentos e uma onda de informações desencontradas.

¿ Trata-se de um delito federal. A Procuradoria-Geral da República vai garantir a apuração devida e vai assegurar que os responsáveis cheguem às mãos da Justiça ¿ afirmou Poiré.

Aumentando o clima de medo imposto pelo narcotráfico na região norte mexicana, duas explosões sacudiram ontem o centro da cidade de Reynosa, segundo o diário ¿El Universal¿. Apesar de não haver feridos, a prefeitura emitiu, via Twitter, apelos para que a população ficasse em casa.

A alta comissária das ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, condenou a matança e considerou grave a situação dos imigrantes ilegais que se arriscam a cruzar o território mexicano rumo à fronteira com os EUA.

¿ Estou profundamente chocada com o massacre, que mostra a grave situação dos imigrantes nesse país. As autoridades devem adotar ações para combater o crescente clima de violência e fixar medidas de proteção aos imigrantes, especialmente mulheres e crianças ¿ disse ela.

oglobo.com.br/mundo