Título: Aliados de Dilma já discutem cargos
Autor: Camarotti, Gerson; Lima, Maria
Fonte: O Globo, 29/08/2010, O País, p. 17

Segundo eles, candidata não gostaria, se eleita, de ter na Casa Civil nome influente como Palocci

BRASÍLIA. Diante da precoce disputa pelo loteamento de cargos num eventual governo Dilma Rousseff, provocada pela disparada da petista nas pesquisas, ela confidenciou a interlocutores que pretende ter pessoas de sua confiança em cargoschave. Dilma tem consciência de que o próprio presidente Lula terá grande influência na composição de sua equipe, em caso de vitória. Mas quer, se eleita, dar a palavra final sobre alguns postos.

Na lista de especulações feitos por aliados, a atual chefe da Casa Civil, Erenice Guerra, seria mantida no cargo. Ela foi secretáriaexecutiva e pessoa da total confiança de Dilma no Palácio do Planalto. Como a petista pretenderia continuar tendo influência total no gerenciamento do governo, caso eleita, um nome de projeção nessa função, como o deputado e ex-ministro Antonio Palocci, atrapalharia.

Da mesma forma, Dilma planejaria ter a atual diretora de Gás e Energia da Petrobras, Maria das Graças Foster, na presidência da estatal. Dilma avalia que a Petrobras terá papel estratégico, especialmente com o pré-sal. Foster tem sido vista em Brasília com frequência, para conversas com Dilma.

Gabrielli: para o governo baiano

O nome do atual presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, que chegou a ser cotado para o primeiro escalão de Dilma no caso de vitória da petista, foi descartado por estratégia do PT. Ele deve assumir uma secretaria de visibilidade no eventual segundo governo de Jaques Wagner (PT-BA).

Na área econômica, dois técnicos têm grande influência junto a Dilma: o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, citado por aliados para o Ministério da Fazenda; e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, opção para o comando do Banco Central.

Já o atual ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, próximo da candidata e do próprio Lula, teria presença garantida no primeiro escalão de Dilma. Com boas relações com o Congresso, ele é apontado para a Secretaria de Relações Institucionais. A pasta teria a função de coordenação política fortalecida, necessária por Dilma, se eleita, ter pouca experiência na área.

O futuro de Palocci é a maior dúvida entre os petistas. Colocado na campanha por Lula, aparece como opção para vários postos, da Casa Civil ou coordenação política até o Ministério da Saúde. Interlocutores de Dilma avaliam que ela não gostaria de ter no Planalto um subordinado mais influente que ela.

Nos bastidores, Lula deu sinal de que gostaria que seu chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, permanecesse no Planalto, no caso de sua candidata se eleger. Ele é cotado para a Secretaria Geral da Presidência, que seria fortalecida.

Carvalho seria uma espécie de sombra de Lula no Planalto.

Dilma sabe que teria de encaixar no governo petistas que foram para o sacrifício nas disputas estaduais, como o senador Aloizio Mercadante (PT-SP), com dificuldade na corrida para o governo paulista, e o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, que pode não se eleger senador.

Pimentel é de confiança de Dilma, mas seu futuro é incerto.

Os principais problemas para administrar seriam dos aliados que já mostraram interesse nos cargos. Apesar da determinação da campanha de tirar o tema da pauta, nos bastidores a disputa pela nova geografia da Esplanada dos Ministérios já começou.

A Dilma vai ter que aprender a fazer isso. Campanha é treino. Ela é metódica e determinada.

Vai superar inexperiência política com dedicação. Vai ter respaldo dos partidos da base.

Não estará só diz o presidente do PT, José Eduardo Dutra.

Negociação com PMDB será dura

Os petistas têm consciência de que a maior pressão será mesmo do PMDB. Apesar da negativa pública do deputado Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice, os petistas sabem que terão de negociar muito para não perder espaço.

O PT sabe que o PMDB quer continuar no comando da Câmara e do Senado, e trabalha para fazer maior número de deputados.

Uma estratégia já em curso é lançar a candidatura do deputado Cândido Vaccarezza (PTSP) para a presidência da Câmara, para forçar um recuo dos peemedebistas por espaço.

Para tentar diminuir a pressão, uma estratégia é fortalecer outros aliados, como o PSB. Novo bloco parlamentar começa a ser estimulado com PDT, PCdoB, PSB e PR para conter a força peemedebista no Congresso.

No PMDB, Dilma não esconde a preferência pelo retorno do senador Edison Lobão (MA) para o Ministério de Minas e Energia.

Aliado de Sarney, Lobão conquistou a confiança da ex-ministra desde que ela comandou Minas e Energia. O ministro da Agricultura, Wagner Rossi, afilhado do próprio Temer, ficaria.

O PMDB quer mais do que tem com Lula: avançar em Transportes e Previdência, por exemplo. Dilma deu sinais de que algumas pastas, como Previdência, não serão negociadas.

Dilma nunca discutiu esse assunto (composição de governo) com ninguém. O PT também.

E um recado para os interessados: o Brasil é presidencialista.

Não vale pressão diz Vaccarezza, um dos coordenadores da campanha de Dilma.