Título: 'Há uma cobrança equivocada por votações para mostrar serviço'
Autor: Jungblut, Cristiane; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 29/08/2010, O País, p. 3

Parlamentares defendem dedicação a campanhas e esvaziamento de sessões

BRASÍLIA. A maioria dos parlamentares está em campanha pela reeleição ou disputando outros cargos nos estados de origem. E também a maior parte deles defende que assim seja feito. O papel do Parlamento não é só votar, dizem. Alguns consideram até que manter as votações em período eleitoral é um risco, pois muita coisa pode ser aprovada sem maiores discussões.

Neste recesso branco da Câmara, a ausência dos parlamentares se somou à falta de acordo entre governo e oposição para qualquer votação.

Vice na chapa da candidata do PT à Presidência, nem o presidente Michel Temer (PMDB-SP) esteve na Casa. De sua residência oficial, cancelou novas sessões, após a invasão de policiais que faziam lobby pela aprovação de um projeto de interesse da categoria. Os seguranças, acostumados à tranquilidade das últimas semanas, reforçaram o policiamento.

Presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), Demóstenes Torres (DEM-GO) diz que poderia haver um esquema mais forte de trabalho neste período.

Ter uma forma mais arrochada de trabalho não teria nenhum problema. Mas há uma cobrança equivocada por votações como forma de mostrar serviço.

Para o líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), é normal esse ritmo em ano eleitoral: Em países desenvolvidos, só se votam seis projetos ao ano. Aqui, tem votação de dez a 15 projetos por dia! O Brasil tem leis demais.

O papel do Parlamento é fiscalização do governo em ano de eleição, o debate das políticas nacionais, de aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias, do Orçamento.

No Senado, as sessões continuaram, sem votações.

Os senadores que não estão em campanha 54 dos 81 disputam a eleição usam debates transmitidos ao vivo para ganhar espaço na mídia. As eleições se concentram nos estados, mas dão as caras no Congresso, ainda que discretamente. Seja num link do site do Senado sobre a importância do voto para senador.

Ou em carros de assessores no estacionamento com propaganda de seus chefes. Caso do carro do chefe de gabinete do presidente da Câmara, Marco Antônio Nunes Ribeiro, parado na vaga oficial do presidente, com adesivos de campanha da dupla Dilma e Temer.